
Porto, 28 out 2025 (Lusa) — O secretário-geral da UGT, Mário Mourão, lamentou hoje que Portugal tenha “muitos patrões e poucos empresários”, que não valorizam o trabalho dos funcionários que têm nas empresas.
Mário Mourão falava a propósito dos 47 anos da União Geral de Trabalhadores (UGT), que foram celebrados hoje no Porto, numa conferência sobre os salários em Portugal, após relembrar os contributos da central sindical para os vários aumentos do salário mínimo nacional e, consequentemente, do salário médio.
“É o suficiente [o salário mínimo]? Não. Estamos muito longe do que é o nosso objetivo. Mas se o salário mínimo não tivesse este impulso que teve, hoje estaríamos muito piores. Porque temos sempre alguém a puxar para trás. Temos sempre empresários que em vez de empresários são patrões, que não valorizam o trabalho daqueles que têm nas empresas. E, infelizmente, nós ainda temos muitos patrões e poucos empresários em Portugal”, disse, no seu discurso de encerramento da conferência.
O secretário-geral da UGT revelou ainda ter pedido à ministra do Trabalho, Maria do Rosário Palma Ramalho, que seja feita uma “aposta” na formação dos empresários portugueses.
“Porque nós não estamos contra os empresários nem contra as empresas. Nós não vivemos sem elas. Nós precisamos das nossas empresas. O que precisamos é que as empresas, sendo produtivas, redistribuam a riqueza que produzem porque é do trabalho dos seus trabalhadores que conseguem atingir esses objetivos”, exigiu.
Com atenção também colocada no emprego e nos salários dos mais jovens, Mário Mourão criticou que as alterações previstas no anteprojeto de reforma da legislação laboral não tenham medidas no “combate à precariedade” de quem entra agora no mercado laboral.
“Os jovens não têm hoje condições para se fixarem no país. É preciso criar condições para que os jovens se fixem. Mas temos que contar com as empresas e com a mentalidade dos empresários, porque é importante para o país saber dar valor à mão de obra, nomeadamente à mais qualificada que alguma vez Portugal já teve, que são os nossos jovens”, considerou, acrescentando que o anteprojeto da revisão laboral “não responde a um único problema dos trabalhadores portugueses e dos jovens”.
As isenções fiscais e benefícios nos primeiros anos de trabalho “são positivas, mas limitam-se a adiar o problema”.
O representante da UGT reforçou acreditarem haver condições para que o salário mínimo em 2026 esteja acima dos 920 euros, apontando para um aumento até aos 950.
Numa retrospetiva da caminhada desta central sindical, Mário Mourão considerou que há 47 anos não teriam capacidade para “antecipar muitos dos problemas” que hoje enfrentam.
“Não esperávamos ver o multilateralismo global, que é essencial e foi essencial para décadas de prosperidade e paz, a ser colocado em causa. Nem esperávamos que as autocracias e os populismos crescessem e afetassem as próprias bases dos nossos sistemas democráticos”, apontou.
Relembrando que, ao longo da sua história, a UGT foi considerada “cautelosa e moderada”, o secretário-geral garantiu “saber e conhecer muito bem” o papel dos sindicatos por si representados e o “peso e impacto” das suas ações para os trabalhadores portugueses.
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