PORTUGAL NA MEMÓRIA DO MUNDO

Mais de 500 anos depois, o Diário de Bordo da viagem de Vasco da Gama à India é reconhecido pela UNESCO como Património Mundial, entrando, assim, no grupo dos raros documentos que integram o registo da Memória do Mundo.

Tudo começou no dia 8 de Julho de 1497. O cronista de serviço, Álvaro Velho, a bordo da nau São Rafael, escrevia que em nome de Deus, o rei D. Manuel I mandava quatro navios em busca de especiarias. Era um sábado e oito dias depois já avistavam as Canárias. Passados quatro meses estavam a dobrar o Cabo da Boa Esperança. E 10 meses e meio após a saída de Lisboa, chegavam, finalmente, a Calecute e depois a Goa.

São estas descrições pormenorizadas e que se encontram guardadas na Biblioteca Pública do Porto, desde 1834, que foram agora reconhecidas e passam a fazer parte do Património Mundial. Todos nós estudamos esta viagem, desde cedo nos ensinaram os feitos dos marinheiros portugueses e a razão por que se fala a nossa língua nos quatro cantos do mundo. O que se passou agora, com esta decisão da UNESCO, vem provar o papel que Portugal desempenhou na globalização.

O mundo começa a olhar para nós de outra maneira. Mas a razão tardia deste reconhecimento não é culpa do mundo, é também responsabilidade nossa. Somente há dois anos, a autarquia do Porto apresentou a candidatura deste valioso documento. O resultado está à vista, o mundo reconhece a obra dos portugueses, mas de uma vez por todas tem que ficar claro que este povo lusitano tem de saber “vender” os seus valores, a sua memória e mostrar quanto contribuímos para o mundo que hoje é de todos.

Habituamo-nos a desconfiar dos políticos (pelas piores razões), a não reconhecer mérito aos empreendedores, a afinar a qualidade de vida pelos padrões mais baixos, a permitir o absentismo e a não denunciar a fraude e a corrupção. Enfim, transformamo-nos num povo pacífico e que se diz de brandos costumes.

Quando Vasco da Gama passou o Cabo da Boa Esperança, e foram quatro dias de tormentas, Álvaro Velho escrevia que de tarde tinham vista do Cabo e de noite viravam em volta do mar e nem sempre podiam avançar porque o vento era de sudoeste e o dito Cabo estava difícil. Mas a determinação foi tudo para encontrar, finalmente, o vento de popa e conduzir a nossa cultura pelo continente asiático. É essa mesma força e determinação que andamos à procura para levar o País a bom porto. Se todos contribuírem, cinco séculos depois também iremos conseguir.

A Direção