PORTUGAL EM CHAMAS

Há mais de uma década, um incêndio no Parque Natural da Arrábida, na zona de Setúbal, concentrava um número inusitado de meios para combater o fogo que consumia de forma bárbara toda a vegetação, classificada e considerada única pelas características que apresenta. Um correspondente de um canal de TV estrangeira deslocou-se ao local e entrevistou um bombeiro que aguardava a chegada do fogo próximo de uma casa para o combater e vencer. A versão do bombeiro era a necessidade de defender a casa e o resto que ardesse por falta de condições. E o jornalista perguntava: Mas este Parque é uma área protegida e algumas das casas aqui existentes até são clandestinas.

Ano após ano, tudo continua na mesma. Portugal arde nos meses de verão e no resto do ano cruzam-se os braços à espera dos próximos fogos. Durante três meses há dinheiro de sobra para combater incêndios. Esgotam-se os meios terrestres e encomendam-se meios aéreos de qualquer origem. Ninguém questiona quanto custa e quanto se gasta. Mas quando o inverno chega e a humidade e chuva dão conta do recado, contam-se os cêntimos e nunca há verba para tratar do assunto com antecedência.

A postura dos governos de Portugal no que se refere ao combate a incêndios é idêntica à do doente que nunca investe na prevenção e só quando está aflito e muitas vezes à beira da morte se lembra que é necessário gastar todos os recursos para se salvar. Como diz o povo: depois de roubado, trancas à porta.

Este ano já ardeu mais do que devia. Morreram pessoas, casas destruídas e uma imensidão de floresta. A ilha da Madeira foi devastada o centro e norte de Portugal continuam a arder e as notícias repetem-se sobre o mesmo drama. Os responsáveis políticos continuam iguais a si próprios: quando estão na oposição criticam a política de combate a incêndios e quando chegam ao poder fazem, precisamente, o contrário e limitam-se às explicações da terra queimada.

As imagens que chegam a todo o mundo, fruto da desgraça, mostram como um País gasta os seus recursos sem critérios nem rigor. Quantas vezes se vê nas televisões pessoas esgotadas com um ramo de árvore na mão ou um balde de água a tentar salvar os seus haveres. Muitas lágrimas, muitos lamentos e, ao mesmo tempo, muitos elogios à forma como os bombeiros se entregam a estas causas. Mas isso não basta, porque a única certeza é que tudo continua a arder.

Depois da destruição vêm os inquéritos que servem para nada. No ano seguinte haverá tantos ou mais fogos. Os aviões da Força Aérea Portuguesa foram equipados e preparados para estes serviços de combate a incêndios, mas pelo que se sabe não levantam voo porque esse trabalho está atribuído a outras empresas que cobram milhões.

A Direção