PODER E INFLUÊNCIA

Os governos dos Estados Unidos e de Cuba anunciaram, recentemente, o restabelecimento total das relações diplomáticas. Desta forma, pôs-se fim a mais de meio século de conflitos, nem sempre pacíficos, e que chegaram a gerar receios à escala mundial. As relações entre norte-americanos e cubanos iniciaram-se em 1902 e foram interrompidas em 1961, dois anos após a vitória da revolução cubana, comandada por Fidel de Castro.

No início, as forças militares dos Estados Unidos chegaram a ocupar Cuba e ponderaram a compra de toda a ilha ao império espanhol, na ocasião em que este já perdia influência e poder no Caribe. Comprar território a outros países era prática muito utilizada pelos Estados Unidos. Foi assim com a Louisiana em 1803, mais tarde com a Florida, Novo México, Colorado, Arizona, Texas e tantos outros como o Alasca em 1867. Mas no que se refere a Cuba, os norte-americanos não compraram, mas arrendaram a Base Naval da Baía de Guantánamo, cujo negócio ainda se mantém, para controlo e manutenção de certos prisioneiros.

Depois da revolução de Fidel de Castro, as relações entre os dois Estados deterioraram-se e ficaram famosos alguns episódios como a expropriação de terras e empresas, a invasão da Baía dos Porcos, a crise dos mísseis, a expulsão de Cuba da OEA e o embargo total. A influência soviética viveu às portas dos norte-americanos em permanente sobressalto e ameaça. Agora, passados todos estes anos, uma viragem histórica pôs fim a um conflito de várias gerações. O entendimento foi feito de forma secreta, durante 18 meses, precisamente no Canadá e no Vaticano, com a mediação do Papa Francisco.

O mesmo Papa que agora também recorda o genocídio do povo arménio por parte dos turcos durante a primeira guerra mundial. Foi a primeira vez que alguém com tanto poder e influência levantou esta questão e na ocasião em que passam, precisamente, 100 anos sobre o esmagamento do povo arménio pelo Império Otomano. O Papa Francisco falou mesmo no sacrifício de um milhão e meio de pessoas. Neste contexto, o Parlamento Europeu quis seguir as intenções do Papa, mas até nisto a Europa mostrou não funcionar a uma só voz, dado que nem todos os Estados membros entenderam esta realidade da mesma maneira.

Também os Estados Unidos manifestam aqui muitos pruridos, nunca utilizando a palavra genocídio, ao contrário do que fazem regularmente em relação ao povo judaico, durante a segunda guerra mundial. Os norte-americanos não querem inflamar as relações com a Turquia e os europeus debatem, há muito, e sem consenso, as possibilidades e formas de como integrar os turcos no espaço da União Europeia. O Papa, exibindo todas as suas capacidades de poder e influência disse mesmo que este problema foi o primeiro genocídio do século XX. Curiosamente, ou não, o Canadá faz parte do restrito grupo de países que também classificam de genocídio os acontecimentos de há 100 anos.

A Direção