PEDRO, PAULO E MARIA

Que terá feito Maria para que Paulo dissesse a Pedro que se ia embora? Dito assim, parece que estamos na catequese apreciando uma qualquer passagem bíblica. Mas a realidade é outra. Paulo não é o apóstolo, mas sim o Portas que todos conhecem como ministro do governo de Portugal e que decidiu apresentar a Pedro Passos Coelho, o seu chefe, um pedido de demissão irrevogável, porque discordou da nomeação de Maria Luís Albuquerque para ocupar o cargo de ministra das Finanças.

Uma semana depois verifica-se que demissão irrevogável não tem o mesmo significado para todos e que Maria, tão contestada,já pode ocupar tranquilamente o seu novo cargo, porque, afinal, a Maria de hoje faz de conta que não é a mesma de ontem.

Tudo isto foi apreciado e revisto à escala mundial. Para uns foi criancice, outros disseram tratar-se de irresponsabilidade e falta de sentido de Estado e houve quem não se surpreendesse com tão inesperada atitude por considerar que um salta pocinhas é mesmo assim.

Seja como for, a brincadeira, ou a nova estratégia ou o que lhe queiram chamar, custou a Portugal, o mesmo que dizer custou aos portugueses, mais de 4 mil milhões de euros, no espaço de uma semana. A mesma quantia que os mesmos protagonistas vêm anunciando como a verba necessária para se reformar o Estado e que têm sentido dificuldades em obtêla. Pois bem, aqui está uma forma curiosa de comparação de números. Paulo Portas não sabe como arranjar 4 mil milhões, mas descobriu como se pode desbaratar a mesma quantia em tão pouco tempo.

Os mercados penalizaram Portugal, e o capital conquistado à custa de tantos sacrifícios foi desbaratado de um momento para o outro. Portugal procura soluções e as instituições andam, numa roda viva, em busca da luz ao fundo do túnel. Toda a oposição reivindica eleições antecipadas, uma tendência constante para quem não apresenta outra solução. O principal líder da oposição, perante um quadro destes, também não demonstrou a capacidade de convencer os portugueses que ele próprio seria a melhor alternativa e manteve um discurso abstrato e sempre igual, atrativo pela retórica mas pouco convincente e credível.

Para já tudo ficou mais ou menos na mesma com um ou outro insulto político. Pedro, Paulo e Maria retomam os seus lugares numa equipa que não se sabe por quanto tempo mais vai durar. O que mudou foi alguma afirmação política, alguma presunção e a certeza de que o significado das palavras já não é a mesma coisa.

A Direção