PAZ E JUSTIÇA

Quando meio mundo imaginava que a Colômbia iria ratificar um acordo de paz entre as forças governamentais e a guerrilha, que aterroriza o País há meio século, eis que por uma escassa margem de votos, os colombianos preferiram a paz, mas com um sentimento de justiça.

A guerrilha na Colômbia é um caso típico sul americano, que não faz sentido nos dias de hoje. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, conhecidas por FARC, estão em ação permanente de guerrilha desde 1964. Já fizeram mais de 200 mil vítimas e auto se intitulam de organização político-militar de inspiração marxista-leninista e anti-imperialista. No terreno têm um exército armado com cerca de 15 mil efetivos, em grande parte jovens com menos de 18 anos.

As ações das FARC são desenvolvidas nas matas, em cerca de 20% do território do País, e ao longo dos anos atormentaram a paz e o desenvolvimento, com o objetivo único de impor o socialismo pela força das armas e do terror. Enquanto Cuba e Venezuela consideram as FARC uma organização “insurgente”, muitos outros países, incluindo o Canadá, chamam-lhe organização “terrorista”.

Ao fim deste tempo a Colômbia começou a despontar no continente sul americano e a apresentar dados económicos invejáveis comparativamente com os seus vizinhos. Enquanto esta tendência de progresso social avançava, o Presidente do País e o líder das FARC deram início, há quatro anos, às negociações para se alcançar a paz. Cuba foi o País mediador para se pôr fim ao conflito armado mais duradouro do continente americano.

Mas pelos vistos, havia mais entusiasmo fora da Colômbia do que propriamente dentro do País, para se assinar um cessar fogo e a paz consequente. O Presidente do País recebeu o Prémio Nobel da Paz, o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon empenhou-se publicamente para que o referendo fosse favorável ao “sim”. Os colombianos foram chamados para responder à pergunta: “apoia o acordo final para o fim do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura?” A abstenção foi enorme (mais de 60%) e dos que votaram, ganhou o “não”.

Isto significa que os colombianos não querem uma paz a qualquer preço, partindo-se do princípio que o maior anseio é que a guerra pare imediatamente. Com este resultado transmitiram aos governantes e ao mundo em geral que o seu voto no “não” representou a vitória da justiça.

As negociações em Cuba apontavam para a impunidade da guerrilha e transformariam as FARC em partido político, convivendo lado a lado com a sociedade, como se os últimos 52 anos de guerra não tivessem existido. O povo colombiano quer paz, mas exigiu justiça e o julgamento dos responsáveis por todas as atrocidades cometidas.

A Direção