ORGULHOSAMENTE SÓS

Donald Trump já é formalmente o Presidente dos Estados Unidos. Curiosamente, o Presidente que apresenta a mais baixa taxa de popularidade nos dias imediatos à tomada de posse. No outro lado do Atlântico, os ingleses anunciaram, finalmente, qual a forma pretendida para cumprir o Brexit, ou seja, a saída da União Europeia.

Entre Trump e Theresa May há muito o que os une e pouco o que os separa. Ambos questionam os parceiros de sempre, duvidam da estabilidade alcançada e procuram novos desafios e aliados. Trump tem a popularidade em baixo e pode, perfeitamente, ignorar essa tendência, uma vez que nas eleições que ganhou, muito raramente as sondagens lhe atribuíram a vitória. Mas agora já é diferente, e uma coisa é dizer e soltar ideias avulsas que têm graça e caem bem nos contestatários, e outra é falar enquanto Presidente do País mais poderoso do mundo e que tem por obrigação, imposta por si mesmo, de manter a paz e um bom relacionamento em todo o mundo.

Os mesmos americanos que elegeram Trump não estão a gostar que seja o líder russo, Vladimir Putin, a defender, publicamente, o comportamento político do Presidente americano. Os russos sempre foram os adversários políticos e bélicos dos americanos. A História da América do pós-guerra foi feita em contraciclo com os ideais soviéticos e agora russos. Pretender pôr em causa a harmonia com os aliados europeus e deixar cair preferências sobre amizades com Moscovo, começa a ser entendido nalguns círculos americanos como uma verdadeira submissão aos encantos da política russa.

Enquanto isto, a Inglaterra anunciou, finalmente, que vai sair da União Europeia e pela forma mais dura, contrariando todas as expetativas, uma vez que a primeira ministra se tinha posicionado no lado do “não” ao Brexit, durante a campanha do referendo.

A primeira alteração será a limitação da circulação de pessoas entre a Inglaterra e o espaço europeu. Tal como Trump, Theresa May é contrária à política de integração de refugiados e apenas admite integrar cidadãos de primeira categoria, altamente qualificados. A Europa já começou a reagir e fez saber que nas negociações, que vão ter início em março, quem sair, sairá com os benefícios, mas também levará os inconvenientes.

A Inglaterra não poderá contar com as facilidades do Mercado Comum e, pior ainda, vai ter nova contestação interna proveniente da Escócia. Os escoceses, que recentemente referendaram a sua permanência no Reino Unido, não querem, por vontade expressa do seu voto, sair da União Europeia. Ameaçam agora com novo referendo com vista à independência.

Estados Unidos e Inglaterra viram as costas ao mundo ocidental e, em contrapartida, o presidente chinês anunciou, em Davos, durante o Fórum Económico Mundial, que a China vai manter as portas abertas e que apostará forte na globalização. Quem diria que isto poderia acontecer no século XXI? Voltamos ao tempo de Salazar quando, fruto da sua política ultramarina, enaltecia com esplendor a política do orgulhosamente só.

A Direção