OPORTUNIDADES PERDIDAS

Uma missão empresarial portuguesa, representando diversos setores de atividades, deslocou-se recentemente à Ásia, mais concretamente à Indonésia e a Timor Leste, na tentativa de procurar novas oportunidades de negócios, tendo presente tratar-se da região do mundo onde o crescimento económico é mais acentuado. Essa missão empresarial, embora pensada pela Câmara de Comércio e Industria Indonésia Portugal e com a visão empresarial do Banco Espírito Santo, contou desde a primeira hora com o apoio e empenhamento pessoal do embaixador indonésio em Lisboa e do embaixador português em Jacarta. Tanto assim que os dois diplomatas compareceram lado a lado em muitas reuniões de trabalho.

Em Jacarta, o embaixador português sublinhou com profundo conhecimento de causa e bastante sensibilidade para ajudar ao desenvolvimento económico das empresas, que o grande obstáculo que se depara, especialmente em mercados tão concorrenciais como o asiático, é o desconhecimento dos modernos valores portugueses e das reais capacidades empreendedoras que nos distinguem. Somos, efetivamente, conhecidos pelo que fizemos há 500 anos, mas pouco mais fizemos para alterar essa forma de marcar presença.

Ao mesmo tempo que decorria essa missão empresarial, decorria, em Lisboa, uma convenção mundial de uma rede de agências de Comunicação, presente em 25 países e integrando 32 agências dos 5 continentes. Esta convenção realiza-se todos os anos, durante 3 dias, num local sempre diferente, para acertar estratégias e formas globais de comunicar marcas e produtos de cada País. A organização deste ano coube à agência representante de Portugal.

Entre estes dois acontecimentos parece não haver qualquer analogia, mas de facto a convenção de Lisboa pode ser importante para a missão empresarial à Ásia. A estratégia da convenção de Lisboa foi definida pela direção de Bruxelas e, entre outros assuntos, incluiu 3 temas para posicionar Portugal perante todos os presentes: Turismo, Vinho e Têxteis. Tudo decorreu bem, a não ser um Mas, que teima em não desaparecer das práticas lusitanas.

De vinhos falou um representante da Vini Portugal. Os têxteis foram apresentados por quem sabe do assunto em representação do CITEVE, o centro tecnológico do setor. Sobre turismo, por ventura o motor da economia, porque faz mexer tudo o resto, falou e bem o presidente da AHP, a Associação dos Hotéis de Portugal. Mas, e aqui está o Mas da questão, quem efetivamente deveria ter apresentado as valências turísticas de Portugal seria alguém do Turismo de Portugal (TP). Em devido tempo, com 6 meses de antecedência, foi apresentado o programa e compreendido o alcance deste evento. Na ocasião, o TP informou que fosse quem fosse, alguém habilitado daquela instituição estaria presente. Mas a 5 dias da convenção, o TP informou que, afinal, não tinha ninguém disponível para apresentar Portugal ao mundo, durante 15 minutos.

Como a palavra “desenrascanço” é das mais ricas, não do léxico mas das práticas portuguesas, tudo acabou em bem, com uma brilhante apresentação sobre as potencialidades de Portugal. Embora com uma pergunta de um forasteiro: “Então vocês em Portugal não trabalham os vinhos a par do turismo?”

Enfim, o dinâmico embaixador de Portugal em Jacarta e outras pessoas empreendedoras nunca poderão servir, convenientemente, Portugal nos tempos modernos, como bem pretendem, porque com o exemplo demonstrado podem-se perder oportunidades únicas de exportar valores, conhecimentos e capacidades de saber fazer. Parece que estamos sempre reservados ao espaço de recordar aos outros que fomos os melhores há 500 anos.

A Direção