OPONENTE E PROPONENTE

O ex-Presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, não poderia ser mais claro: ou o Partido Socialista obtém um bom resultado eleitoral nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, ou a liderança do partido terá de ser ponderada. Carlos César foi mais longe nas suas recentes declarações públicas, ao afrontar mesmo o secretário geral do PS António José Seguro, criticando-o de que tem sido muito mais oponente do que proponente. E de facto, o que Carlos César fez, como ninguém do seu partido ousou fazê-lo até agora, foi falar com sentido de Estado. César assumiu um papel responsável e deu a entender que ser oposição não tem que ser forçosamente do contra e o que o líder socialista português tem feito resume-se a aparições críticas e negativas face a tudo o que se passa em Portugal.

Se o desemprego baixa, a oposição diz que os cálculos e as métricas estão viciados. Se as exportações aumentam, tal facto fica a dever-se à redução do consumo interno; se o investimento cresce é porque não passa de números residuais; se os juros baixam é porque o trabalho é dos credores e nunca dos portugueses. Enfim, António José Seguro limita-se a dizer que o PS está bem de saúde e recomenda-se e passa os dias a afirmar o pior de Portugal.

Foi sobre este estado de coisas que Carlos César falou mais alto. E sobre as eleições europeias foi mais acutilante. César afirmou que teve uma conversa com António José Seguro sobre a sua eventual candidatura ao Parlamento Europeu e que manifestou indisponibilidade para o cargo. Agora, Seguro nega ter alguma vez convidado César para esse efeito. Quem fala verdade? Uma coisa é certa, a lista de oponentes dentro do próprio PS em relação à liderança do partido, cresce todos os dias. E caso os partidos do Governo obtenham um bom resultado eleitoral, os socialistas vão demorar algum tempo a levantar a cabeça.

Portugal passou e ainda está a passar um mau bocado. Mas feita a radiografia do mal que afetou o País, só pode haver um sentido: a cura. E o que se tem passado é que o remédio para o mal não tem sido unânime e agora através de vozes como a de Carlos César, chega-se à conclusão que a liderança dos socialistas não tem sido suficientemente segura para contrariar as políticas da maioria e apresentar-se como alternativa.
Afinal, os portugueses estão a sofrer na pele com a crise que herdaram ou ajudaram a construir, mas já não embarcam em conversas falsas do facilitismo para resolver todos os males do mundo. Vamos ver se o PS está de boa saúde, como diz Seguro.

A Direção