OperaFest começa sexta-feira com objetivo de ampliar público da ópera

Lisboa, 16 ago 2022 (Lusa) — A terceira edição do Opera Fest, que começa na sexta-feira, em Lisboa, visa ampliar o público de ópera de uma forma transversal, disse à agência Lusa a sua diretora artística, a soprano Catarina Molder.

“Temos tido o público do nosso lado, desde o início, e temos chegado a públicos que, normalmente, não vão às instituições que apresentam ópera, um fenómeno que está a ser estudado por alunos de doutoramento da Universidade Nova de Lisboa”, disse Catarina Molder.

A responsável afirmou à Lusa que se tem alcançado, nas duas edições anteriores, “não só o público mais jovem, como um público variado, que vem de outras franjas artísticas e musicais, e que encontra na programação [do Opera Fest], devido ao seu ecletismo”, fatores de interesse.

A soprano referiu o facto de se “cruzar um repertório muito vasto que vai dos grandes clássicos à ópera de vanguarda, como existe também um espaço para música de outros quadrantes, como a ‘Rave Operática’. Abordamos não só períodos como histórias, temáticas, compositores muito variados que chegam às afinidades de algum público”.

“Apanhamos um público em rede, e é essa a receita do sucesso do OperaFest, que disse sempre que quer fazer chegar a ópera a todos e aproximar o público”.

O OperaFest começa na sexta-feira e prossegue até 10 de setembro, no Jardim do Museu Nacional de Arte Antiga, parceiro da Ópera Castelo, que produz o certame.

Além do compromisso de “alcançar todos os públicos”, o OperaFest aposta em novos criadores e intérpretes, e no talento nacional.

“O OPeraFest é um palco inclusivo, onde haverá talento nacional a 100%, a todos os níveis, desde os talentos mais emergentes, ao nível de músicos, cantores, maestros, e também ao nível criativo, e de toda a equipa técnica e da produção”.

A soprano defendeu a introdução da disciplina de produção operática nos currículos musicais artísticos, e afirmou que a equipa de produção do OperaFest é maioritariamente preenchida por musicólogos que, “se for preciso, são maquinistas, escrevem textos sobre as óperas e fazem a legendagem”.

Catarina Molder sublinhou que “ninguém trabalha para o OperaFest de graça”.

“Nós banimos completamente as práticas de voluntariado ou de estágios não remunerados, porque achamos que é dissimular a exploração laboral. Apesar de termos parcos meios, respeitamos muito o trabalho e a dignificação do trabalho jovem, porque, se não fosse essa força dos jovens e a conjugação de sangue fresco com experiência, o OperaFest não existia”, argumentou.

Da programação deste ano destaca-se a estreia absoluta da ópera “Minotauro”, de João Ricardo, vencedor, no ano passado, do Prémio Carlos Pontes Leça, que toma o nome do antigo responsável pelo Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian.

A soprano realçou que o Festival promove o único concurso de ópera contemporânea em Portugal.

“Minotauro” estreia-se no dia 06 de setembro, às 21:00, e, segundo nota da organização, “é um episódio operático que propõe uma desconstrução do mito do Minotauro”.

“Vagamente inspirado no tratamento desta fábula por Jorge de Sena e Jorge Luís Borges, dá-se aqui voz ao Minotauro, mas também às diferentes vozes que poderiam ter vivido na sua consciência e alimentado a sua imaginação”, lê-se na apresentação.

A ópera conta com a participação do tenor João Valido Vaz, da meio-soprano Ana Rita Coelho e da soprano Beatriz Volante, vencedora, em ex aequo, do Concurso Internacional de Música da Cidade de Almada 2017, acompanhados pelo Ensemble do Movimento Patrimonial da Música Portuguesa (MPMP).

A ópera “Um Baile de Máscaras” (1859), de Verdi, abre o certame, no dia 19 de agosto, e estará em cena até ao dia 26.

A já tradicional “rave operática”, intitulada este ano “Um Baile de Máscaras para Desafiar o Destino”, encerra o Festival.

Esta ‘rave’ é apresentada como “uma homenagem ao baile de Verdi e a catarse da máscara, tão necessária, depois desta pandemia – do seu uso para entrarmos no mundo da fantasia e da imaginação”.

Também no último dia do Festival, 10 de setembro, às 21:00, sobe à cena a ópera “O Homem dos Sonhos” (2022), de António Chagas Rosa, a partir de leituras de Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), uma obra que se estreou em fevereiro passado no Teatro S. Luiz, em Lisboa.

“O Homem dos Sonhos” é dirigida pelo maestro Jan Wierzba, com direção de cena de Miguel Loureiro, cenografia de André Guedes, figurinos de João Telmo e desenho de luz de Daniel Worm.

A ópera de Chagas Rosa é protagonizada por Catarina Molder, no papel do homem dos sonhos, que vai contracenar com o barítono Christian Luján, acompanhados pelo Ensemble MPMP.

Catarina Moldrer defendeu que “esta é uma ópera para o futuro” e que Chagas Rosa “merece ser mais conhecido, pois a sua música tem uma enorme qualidade”.

Da programação divulgada, consta, nos dias 27 e 28 de agosto, a estreia portuguesa da ópera em um ato “Labirinto” (1963), de Gian-Carlo Menotti, “um compositor apaixonante, que conjuga na sua música o lado italiano e americano, muito operático e lírico, mas com um bocadinho daquele ‘swing’ americano, e tem sempre mistério”, disse Catarina Molder, referindo que a apresentação, no ano passado, da ópera “A Médium”, do mesmo compositor, foi “um sucesso”.

Gian-Carlo Menotti (1911-2007) nasceu em Itália, em Cadegliano-Viconago, e naturalizou-se norte-americano. É “um compositor fascinante”, disse Molder.

O elenco de “Labirinto” é constituído pelo barítono Tiago Amado Gomes, a soprano Cecília Rodrigues, a meio-soprano Ana Ferro, o tenor Alberto Sousa, e o ator Benjamim Barroso.

Também nos dias 27 e 28 de agosto, sobe à cena “Uma Partida de Bridge”, de Samuel Barber.

Esta dupla apresentação tem direção musical de Tiago Oliveira e cénica de Bruno Bravo, cenografia e figurinos de Stéphane Alberto e desenho de luz de Pedro Santos.

Para “Uma Partida de Bridge”, o elenco conta com Cecília Rodrigues, Ana Ferro, Alberto Sousa e Tiago Amado Gomes, acompanhados pelo Ensemble MPMP.

O cartaz inclui ainda a ópera de câmara para os mais novos “Jeremias Fisher. A história do menino Peixe” (2007), de Isabel Aboulker, com libreto a partir da peça teatral “Jérémy Fischer”, de Mohamed Rouabhi, na versão portuguesa de Luís Rodrigues.

A ópera, “que fala sobre a transformação e o crescimento”, está em cena nos dias 01 a 03 de setembro, sempre às 21:00, com direção cénica de Michel Dieuaide, coordenação musical e correpetic¸a~o de Nuno Barroso, cenários e figurinos de Danie`le Rozier.

Esta ópera de câmara conta com a participação do Quarteto Artzen, do coro infantil da companhia da O´pera do Castelo, do Coro da Ópera do Castelo e ainda de Catarina Molder, dos barítonos Lui´s Rodrigues e Armando Possante, que também dirige o coro infantil, e do escritor Pedro Frias, como narrador.

Um projeto que visa “sensibilizar as crianças para a ópera”, disse Molder.

Paralelamente à programação, realiza-se o concurso “Maratona Ópera XXI” e a “Ópera Express para Novos Encenadores”, no dia 06 de setembro.

O júri do concurso é composto pela soprano Catarina Molder, o compositor Edward Ayres de Abreu, musicólogo, e novo diretor do Museu Nacional da Música, a atriz e encenadora Sandra Faleiro, Andre´ Cunha Leal, programador Centro Cultural de Belém, Maria Joa~o Cabral, da Fundac¸a~o La Caixa, e o coreógrafo e encenador Rui Horta.

A programação conta ainda com aulas de canto para amadores, de cerca de 30 minutos, na “Máquina Lírica”, na Sociedade Guilherme Cossoul, nos dias 06 e 07 de setembro, orientadas pelo barítono André Henriques e o tenor Alberto de Sousa.

No ano passado, ainda com restrições devido à pandemia de covid-19, o Festival foi visto por 3.700 pessoas, segundo dados da organização.

A edição de 2021 contou com 115 colaboradores, “nem estagiários nem voluntários”, tendo “cerca 40% sido jovens até 30 anos”, “todos pagos dignamente”.

O festival assume-se igualmente “como um festival verde, que recicla as suas cenografias, figurinos e todo o tipo materiais, assim como evita o lixo e o desperdício, durante todas as fases do trabalho”, diretivas que se mantêm este ano.

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