
Genebra, Suíça, 29 out 2025 (Lusa) — O alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos lamentou hoje os números “estarrecedores” após mais de 100 mortos em ataques israelitas na Faixa de Gaza e instou as partes a não deixarem fugir a paz.
“Os relatos de mais de 100 palestinianos mortos em ataques aéreos israelitas contra casas, tendas de deslocados internos e escolas em toda a Faixa de Gaza, após a morte de um soldado israelita, são estarrecedores”, afirmou Volker Turk em comunicado.
O alto-comissário da ONU observou que os ataques israelitas executados na terça-feira ocorreram numa fase em que os palestinianos começavam a ter esperança num fim à violência após dois anos de “sofrimento e miséria indizíveis” no território.
“Não podemos deixar escapar esta oportunidade de paz e de um caminho para um futuro mais justo e seguro”, declarou Turk, que apelou a Israel para que cumpra as suas obrigações perante o direito internacional humanitário e considerando as autoridades de Telavive responsáveis por “quaisquer violações”.
O dirigente da ONU recordou ainda que “as leis da guerra são muito claras quanto à importância primordial da proteção dos civis e das infraestruturas”.
Os ataques aéreos, que começaram na terça-feira à noite e se prolongaram na madrugada de hoje, foram a maior ameaça ao frágil acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas desde que entrou em vigor em 10 de outubro.
Segundo a Defesa Civil das autoridades do território, controladas pelo Hamas, os bombardeamentos israelitas provocaram pelo menos 104 mortos, incluindo 46 crianças.
Israel acusa o Hamas de violar o cessar-fogo e de abater um soldado israelita na terça-feira em Rafah, no sul do enclave palestiniano, uma alegação rejeitada pelos islamitas do Hamas.
Além disso, a decisão de atacar a Faixa de Gaza foi tomada no seguimento de um incidente relacionado com a entrega de um corpo de um refém mantido na Faixa de Gaza, ocorrida na segunda-feira à noite, ao abrigo do acordo de cessar-fogo.
Análises forenses revelaram porém que os restos mortais devolvidos pelo Hamas pertenciam a um antigo refém já recuperado e sepultado há quase dois anos e não a um dos 13 corpos ainda por entregar.
Depois dos primeiros ataques israelitas na terça-feira, o Hamas adiou a devolução de um corpo que tinha anunciado para o mesmo dia.
No âmbito do entendimento, o Hamas entregou os últimos 20 reféns vivos que mantinha no enclave palestiniano, mas apenas 15 dos 28 que estavam mortos, alegando dificuldades em encontrar os corpos entre os escombros do território devastado por mais de dois anos de conflito.
Em troca dos reféns, Israel libertou quase dois mil presos palestinianos e entregou 195 corpos.
A primeira fase do acordo, impulsionado pelos Estados Unidos e negociado ao longo de vários dias com a mediação de outros países (Egito, Qatar e Turquia), prevê a retirada parcial das forças israelitas do enclave e o acesso de ajuda humanitária ao território.
A etapa seguinte do entendimento, ainda por acordar, prevê a continuação da retirada israelita, o desarmamento do Hamas, bem como a reconstrução e a futura governação do enclave.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e 251 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou mais de 68 mil mortos, segundo as autoridades locais, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
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