O POVO SABE CASTIGAR

Os portugueses mostraram algum descontentamento ao Governo, de acordo com os resultados eleitorais do passado fim-de-semana. Apesar de manter toda a legitimidade para continuar a governar, uma coisa é certa: o Governo perdeu força. E essa fragilidade vai ter reflexos, certamente, num futuro próximo, dentro do próprio Executivo. Não por influência direta da oposição, mas por divergências na própria coligação governamental.

O atual Governo de Portugal está há dois anos no exercício do poder e tem implementado severas medidas de disciplina financeira para equilíbrio das contas públicas. Pelos vistos, essas medidas não têm sido suficientes ou eficazes, uma vez que continua crítica a situação e os mercados internacionais desconfiam.

O atual Governo não herdou uma vida fácil, é certo. Começou a governar sob um resgate negociado pelo Governo anterior. Para além desse esforço, em dois anos, este Governo já foi sujeito a cinco moções de censura e a uma instabilidade no seio da coligação que fez abalar todas as tentativas de recuperação.

Foram dois anos de muita discussão, mas pouco produtivos em termos de resultados e de reformas necessárias para enfrentar as novas realidades. Das promessas aos atos vai uma distância enorme e de difícil cumprimento. Portugal parece preso à sua Constituição e por mais evidente que possa parecer qualquer alteração na vida dos portugueses, alguém levanta a dúvida da inconstitucionalidade e tudo fica em suspenso. O Tribunal Constitucional, nesta encenação à portuguesa, passou a ser o protagonista principal. E a moda pegou.

A atual classe política parece mais interessada nos jogos de interesses nos bastidores, apostando em capacidades de influência e em benefícios próprios. Falar em nome do povo é fácil e demagógico. O primeiro interesse político da oposição é estar em desacordo e o povo está a ficar cansado e deu provas disso nestas eleições autárquicas: O Governo foi penalizado, mas a oposição também não conseguiu uma vitória que se diga sustentada e esmagadora. Quem ganhou verdadeiramente foram os independentes e o Partido Comunista.

O líder da oposição, embora vencedor, não é assim tão reconhecido dentro do seu partido. O caso de Lisboa é sintomático: a vitória dos socialistas é uma vitória de António Costa e não do Partido Socialista. O Porto é outro exemplo: O PSD é o partido preponderante, mas quem sai vencedor é um independente que o partido do Governo rejeitou.

Os recentes resultados mostraram que o povo exige mais atenção à classe política. As próximas eleições são dentro de 10 meses para o Parlamento Europeu. Aí, já não haverá independentes a concorrer e serão apenas os partidos a recolher os votos. Então, se saberá melhor quem é vencedor indiscutível.

A Direção