O FUTURO DA MONARQUIA

Correio da Manhã Canadá

A estreita relação entre Portugal e Espanha faz do recente exílio de Juan Carlos I um dos assuntos mais comentados da atualidade em terras portuguesas. O ex-rei de Espanha, que em 2014 abdicou do trono em favor do filho Felipe VI, deixou a sociedade espanhola em sobressalto ao anunciar que pretende agora sair do país, perante “a repercussão pública” de “certos eventos do passado”.

Juan Carlos I é uma figura amplamente controversa. Visto por muitos como o salvador de Espanha e o responsável pela transição do país para a democracia após a morte do ditador Franco, protagoniza também polémicas ligadas a relações extraconjugais e a suspeitas de corrupção. A renúncia de deveres ou o exílio são tudo menos inéditos na realeza europeia. Em novembro do ano passado, o Reino Unido assistiu ao afastamento do príncipe André, devido a alegadas ligações a Jeffrey Epstein, milionário norte-americano condenado por pedofilia. Enquanto isso, os duques de Sussex abdicaram dos seus títulos reais para serem “financeiramente independentes”, mudando-se primeiro para Vancouver, no Canadá, e depois para Los Angeles, nos Estados Unidos da América (EUA).

Episódios destes reacendem a discussão sobre os caminhos futuros dos governos monárquicos, exercício particularmente necessário para o Canadá, onde a rainha Isabel II é Chefe de Estado, nos termos da Constituição. Terá a monarquia os dias contados? Quais os benefícios deste modelo governativo em detrimento de outros? Será que a ligação entre o Canadá e a realeza britânica faz sentido?

As respostas a estas perguntas estão longe de serem consensuais, mas um inquérito feito no início do ano no Canadá dá algumas pistas sobre as opiniões dos canadianos face ao futuro da monarquia. Segundo o estudo da Ipsos, mais de metade dos cidadãos – 53% – manifestam ceticismo relativamente à sobrevivência do sistema no Reino Unido após a morte de Isabel II e seis em cada 10 defendem o fim das ligações da família real britânica ao Canadá. Em contraste, a esmagadora maioria – 81% – aprova a conduta da rainha enquanto Chefe de Estado. Os resultados tocam num ponto fulcral na discussão sobre o futuro da monarquia: a distinção entre indivíduo e instituição. Se por um lado muitos canadianos desaprovam o sistema, por outro, suavizam essa rejeição quando lhes é introduzida uma figura consensual, como Isabel II.

E não será essa liderança personalizada, mais do que as próprias instituições, que ditam o sucesso ou a desgraça de qualquer sistema político?