Moçambique espera recorde de produção de mais de 1,7 toneladas de ouro em 2026

Maputo, 05 dez 2025 (Lusa) – Moçambique prevê produzir mais de 1.723 quilogramas de ouro em 2026, estimativa que, a concretizar-se, será um novo recorde anual, segundo projeções do Governo.

“O aumento na produção de ouro resultará do bom desempenho das duas principais empresas do setor e do investimento na ampliação da capacidade produtiva”, justifica o Governo, nos documentos de suporte à proposta de Plano Económico e Social e Orçamento do Estado para 2026.

Trata-se de um aumento de 4% face à estimativa de 1.651 quilogramas de ouro previstos para este ano, que já representava um crescimento de 1% face a 2024, então afetada pela retração da atividade na província de Manica, que concentra grande parte desta produção, na sequência dos protestos pós-eleitorais que condicionaram algumas mineradoras.

Cada quilograma de ouro vale atualmente cerca de 108 mil euros no mercado internacional atualmente, pelo que a produção total moçambicana, a preços de novembro, esperada para 2026 representa uma estimativa de praticamente 186 milhões de euros.

Segundo dados do Governo, 44% do ouro produzido em Moçambique no ano passado foi exportado, percentagem que deverá sofrer um ligeiro aumento, para 45%, em 2025, além da meta de 85% até 2029.

Contudo, o Governo moçambicano suspendeu em 30 de setembro todas as licenças de mineração na província de Manica, centro do país, e criou uma comissão interministerial para rever o regime de licenciamento, reforçar a fiscalização e avançar com medidas de recuperação ambiental.

“A suspensão deve ser aplicada de forma global, abrangendo operadores licenciados, operadores que estão a operar irregularmente, de modo a estancar a degradação e criar um ambiente propício à reorganização institucional para que ocorra uma operação sustentável”, avançou o porta-voz do Conselho de Ministros, Inocêncio Impissa.

O Presidente moçambicano, Daniel Chapo, afirmou, em 17 de setembro, que a mineração está a causar um “desastre ambiental” na província.

Isto depois do comando operativo das Forças de Defesa e Segurança (FDS) que trabalhou naquela província entre 17 e 19 de julho, para averiguar a situação ambiental face à mineração, ter publicado um relatório.

A comissão constatou no terreno uma “mineração descontrolada” feita por operadores licenciados, com empresas a operar sem plano de recuperação ambiental e sistemas de contenção de resíduos, para além de violações dos direitos dos trabalhadores.

“Foram ainda constatados riscos para a segurança e soberania nacionais, pois foram identificados grupos de estrangeiros envolvidos no garimpo ilegal que entram por rotas informais e alimentam redes paralelas de comércio de ouro, extorsão e insegurança pública, criando focos de tensão social”, disse Impissa.

O executivo classificou como crítica a situação ambiental em Manica, apontando para “grave poluição” dos rios que apresentam “águas com coloração avermelhada, turva e opaca,” resultante de lavagem direta de minérios e despejo de resíduos desta atividade sem qualquer tratamento.

Perante este cenário, o Governo criou uma comissão interministerial, que integra os ministérios da Defesa, Recursos Minerais e Energia, do Interior, dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, das Finanças, da Economia, da Agricultura, Ambiente e Pesca, da Saúde, da Justiça, do Trabalho, género e Ação Social.

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