MILHÕES COM POUCO PROVEITO

Quem não se lembra dos tempos áureos dos Fundos Comunitários destinados a Portugal? A imprensa noticiava com grandes destaques os milhões que entravam diariamente. Havia dinheiro para tudo e para todos, desde que se cumprissem algumas regras que nem todos sabiam como preencher.

O dinheiro destinava-se a formação, a projetos inovadores de todas as áreas de negócio, a obras públicas, enfim ao crescimento de Portugal. Com tanta coisa para se fazer quase toda a gente estava ocupada. A mesma imprensa dos milhões, noticiava que Portugal apresentava das taxas de desemprego mais baixas da Europa. Com tanto dinheiro e tanto papel por preencher, criou-se uma nova classe profissional: os especialistas que sabiam colocar no papel todos os requisitos para a chegada do dinheiro. Faziam lembrar os que antigamente se plantavam à porta do Arquivo de Identificação e a troco de algum dinheiro ajudavam os analfabetos a requisitar o BI, hoje CC.

Fizeram-se auto estradas, às vezes em duplicado, desenvolveu-se uma política de cimento como nunca tinha existido, construíram-se coisas necessárias e outras tantas que não faziam falta nenhuma. Pensou-se em grande, mas grande parte das vezes em forma megalómana. Dos últimos sonhos faziam parte um novo aeroporto para Lisboa e várias linhas de comboio de alta velocidade.

Até que Portugal aterrou e tomou consciência do seu lugar. Depois de se verificar que se gastaram milhões em coisas inúteis, como o aeroporto de Beja, que se ficou pelo voo inaugural entre o Alentejo e Cabo Verde com muitos passageiros convidados para encher o avião, a solução foi parar com tudo e repensar o País. Com tantos milhões gastos, esqueceram-se, por exemplo, de ligar Portugal de comboio. As ligações norte/sul ainda são feitas em alguns troços de via única e a velocidades reduzidas. Uma viagem Porto/Faro demonstra na perfeição a irregularidade portuguesa.

Entretanto, os tais milhões desapareceram não se sabe para onde. Há alguma obra feita, mas para tanto dinheiro, muito mais deveria haver. As indústrias começaram a fechar, a agricultura e a pesca valem o que valem, o comércio ressentiu-se, o desemprego aumentou e a emigração está na ordem do dia. Com esta realidade, os tais milhões que entravam todos os dias não foram tão eficazes como se esperaria.

A educação, o grande pilar do futuro, beneficiou muito pouco e o resultado é que no ranking europeu, Portugal continua muito atrás, apesar de professores e demais agentes responsáveis pelo ensino falarem como se fossem os melhores do mundo e merecessem tudo pelo trabalho que desenvolvem. A realidade mostra que Portugal sabe gastar, mas com pouco proveito.


A Direção