Milhares de ultraortodoxos voltam a bloquear entradas de Jerusalém

Jerusalém, Israel, 30 out 2025 (Lusa) – Milhares de judeus ultraortodoxos voltaram a bloquear hoje os acessos a Jerusalém, em protesto contra o serviço militar obrigatório em Israel, do qual os estudantes religiosos estavam anteriormente isentos.

A marcha, denominada “Protesto de Um Milhão de Pessoas”, bloqueou várias vias de entrada da cidade, onde os manifestantes se juntaram e transportaram faixas com ‘slogans’ como “A Rússia está aqui” e “Estaline está aqui”.

Os estudantes das ‘yeshivas’ (escolas religiosas) retomaram os protestos após o Supremo Tribunal ter criticado na quarta-feira o Governo por falta de fiscalização aos acusados de deserção.

Segundo a imprensa israelita, a procuradora-geral também acusou o Governo há uma semana e avisou que estava dentro das suas competências impor sanções mais severas contra os refratários.

Em 1948, depois da guerra da independência, foi dada aos ultraortodoxos a oportunidade de ficarem isentos do serviço militar, num acordo que inicialmente abrangia apenas algumas centenas de estudantes, mas que se foi alargando em grande escala numa comunidade estimada em cerca de 15% da população e que deverá aumentar substancialmente nos próximos anos, devido à sua elevada taxa de natalidade.

No entanto, em junho de 2023, apenas alguns meses antes do começo da guerra na Faixa de Gaza, as cláusulas de isenção expiraram e, um ano mais tarde, o Supremo o Tribunal redigiu um parecer que tornava o recrutamento da comunidade Haredi obrigatório.

Segundo dados oficiais citados pelo jornal The Times of Israel, cerca de 78 mil estudantes ultraortodoxos foram chamados para as forças armadas desde junho de 2024, mas apenas 3.438 se apresentaram e a data limite já foi ultrapassada no que respeita a perto de 40 mil.

Do total dos que responderam à ordem militar, prossegue o jornal, só 931 se alistaram, dos quais 153 ingressaram em unidades de combate.

O Ministério da Defesa israelita e as Forças de Defesa de Israel alegam que precisam de mais 12 mil efetivos para responder às necessidades de segurança do país, que, nos últimos dois anos, se envolveu em confrontos militares na Faixa de Gaza e também no Líbano, na Síria, no Irão e no Iémen.

Nos últimos meses, os estudantes das ‘yeshivas’ têm saído à rua em diversas ocasiões e adotam frequentemente ‘slogans’ e símbolos do movimento de libertação dos reféns raptados pelo grupo islamita palestiniano Hamas em 07 de outubro de 2023.

Segundo o The Times of Israel, um dos manifestantes exibia hoje uma faixa com a palavra “parasitas”, dirigindo-se aos israelitas seculares, que, em muitos casos, não entendem o regime de exceção quando os seus familiares foram mobilizados para as frentes de combate.

A imprensa israelita relata que as forças de segurança fecharam hoje a entrada principal de uma estação rodoviária em Jerusalém após um breve confronto entre passageiros e grupos de manifestantes, que começaram a atirar garrafas e a insultar mulheres que consideravam “impuras”.

Em julho, o Judaísmo Unido da Tora, partido ultraortodoxo com sete lugares na coligação de Netanyahu, anunciou a saída do Governo depois de ter tido conhecimento do projeto de lei que previa penas severas para os refratários.

Há uma semana, o partido ultraortodoxo Shas anunciou a renúncia a todos os cargos no Knesset (parlamento israelita), reivindicando o regresso da isenção dos membros da sua comunidade do serviço militar, mas ainda não retirou o apoio essencial à sobrevivência do executivo chefiado por Benjamin Netanyahu.

Espera-se que um projeto de lei, atualmente em debate em comissão parlamentar, incentive os jovens ultraortodoxos que não sejam estudantes a tempo inteiro a alistarem-se.

Mas, para alguns rabinos ultraortodoxos, o serviço militar representa um perigo, pois receiam que os jovens se afastem da fé, embora alguns aceitem que os seus seguidores que não se dedicam ao estudo a tempo inteiro possam apresentar-se nas forças armadas.

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