Milhares de afegãos regressam do Paquistão à pátria sob caos e longas filas

Cabul, Islamabad, 02 nov 2025 (Lusa) – Milhares de refugiados afegãos atravessaram hoje a passagem fronteiriça de Torkham, vindos do Paquistão, numa repatriação em massa marcada por longas filas e caos, como consequência humanitária da frágil trégua diplomática entre o Paquistão e os talibãs.

“Centenas de camiões estavam alinhados, as pessoas desesperadas para atravessar. Desde a manhã que não sabemos se nos deixarão aqui no campo ou se nos enviarão diretamente para as nossas regiões. As nossas mulheres e crianças estão angustiadas”, disse Hasher Khan, pai de uma família afegã recém-repatriada, em declarações à agência de notícias Efe, reconhecendo que a situação continuava difícil.

A passagem de Torkham, juntamente com outras passagens, foi fechada em meados de outubro, como consequência direta de confrontos fronteiriços nas últimas décadas, que incluíram ataques aéreos paquistaneses em solo afegão e uma contra ofensiva talibã que provocou dezenas de mortos.

Este sábado, o Paquistão reabriu a passagem fronteiriça exclusivamente para o regresso de refugiados afegãos.

“Ontem [sábado] foram repatriados cerca de 7.349 refugiados afegãos e o processo continua neste domingo”, explicou Muhammed Ayaz, agente paquistanês da polícia local de Landi Kotal, em declarações à Efe.

Khan recordou que durante o encerramento da fronteira dormiu com a sua família nos camiões.

“Passámos semanas lá, os nossos filhos e os doentes ficaram mal e sofremos muito”, relatou.

Agora, com a passagem reaberta, as condições continuam extremas. As famílias esperam em acampamentos improvisados ou ao ar livre, sem serviços básicos.

Mesmo depois de cruzar para o Afeganistão, muitos repatriados permanecem retidos durante horas ou dias nos pontos de registo, devido ao lento processo administrativo.

Hamir, pai de uma família afegã de sete membros, explicou que as longas esperas e a incerteza estão a afetar os repatriados.

A reabertura temporária ocorre após uma semana caótica de negociações na Turquia. O diálogo fracassou na quarta-feira e foi retomado na quinta-feira apenas pela intervenção dos mediadores.

Após a conclusão da reunião, os mediadores (Turquia) anunciaram a “continuação do cessar-fogo”, os talibãs anunciaram “futuras sessões” e o Paquistão emitiu um comunicado alertando que a trégua “não é incondicional” e “reserva todas as opções” militares.

A tensão atual centra-se na insurgência do Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP).

Islamabad acusa o regime talibã de dar “refúgio” no Afeganistão aos combatentes do TTP, Cabul nega as acusações, argumentando que o TTP é um “problema interno” do Paquistão. Por sua vez, acusa Islamabad de violar a sua soberania.

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