Mediadores querem que EUA forcem Israel a aceitar segunda fase de trégua

Doha, 07 dez 2025 (Lusa) – Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Catar afirmou hoje que o objetivo principal dos mediadores do conflito na Faixa de Gaza é que os Estados Unidos forcem Israel a aceitar a segunda fase da trégua.

“Neste momento, o nosso principal objetivo é conseguir que os Estados Unidos empurrem Israel até à fase dois [da trégua] e apoiar o desenho desse processo”, disse Majed al Ansari, citado pela agência Efe, num encontro com jornalistas à margem do Fórum de Doha, que terminou hoje com a participação de vários representantes internacionais.

O porta-voz fez referência à implementação do plano de paz de 20 pontos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que entrou em vigor em 10 de outubro, quando Israel e o Hamas acordaram um frágil cessar-fogo que tem sido violado, especialmente pela parte israelita com ataques recorrentes em Gaza, segundo a Efe.

Al Ansari denunciou que “qualquer violação do cessar-fogo constitui uma ameaça para o mesmo”, num momento em que não há perspetivas para o início da segunda fase do plano, que estipula o desarmamento do Hamas, a implementação de uma força de estabilização internacional e a formação de um governo tecnocrata.

“A falta de decisão sobre muito destes temas dá tempo para que se derrube o cessar-fogo. Estamos bastante preocupados, mas acreditamos no processo e na colaboração com os Estados Unidos”, asseverou o porta-voz, que apontou que o Catar e os restantes mediadores (entre os quais o Egito e Turquia) trabalham “muito de perto com a administração Trump para impulsionar o início da segunda fase”.

Al Ansari reconheceu que o Catar já supunha que o plano de paz “necessitaria de um segundo impulso” depois da implementação da primeira, que estipulava a libertação de presos palestinianos, a libertação de reféns vivos às mãos do Hamas e a devolução dos corpos dos mortos, entre outros pontos.

Segundo a agência Efe, resta o corpo de um refém por devolver, algo que o responsável do Catar qualificou de “milagre”, uma vez que acreditava que era algo “quase impossível”.

Não obstante, afirmou que a preocupação se centra nas “garantias de segurança” e outros aspetos no terreno, onde há “violações do cessar-fogo quase diariamente” e que a ajuda humanitária “não está a chegar segundo o acordado”.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, defendeu hoje que a terceira fase do cessar-fogo em Gaza, proposta pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, deverá passar pela “desradicalização” do território.

Netanyahu comparou o processo ao realizado na Alemanha após a Segunda Guerra Mundial.

“Como disse ao chanceler [Friedrich Merz] há uma terceira fase: a desradicalização de Gaza, algo que também era considerado impossível, mas que foi conseguido na Alemanha”, salientou o primeiro-ministro de Israel numa conferência de imprensa em Jerusalém.

Ao lado do chanceler alemão, Netanyahu afirmou que a primeira fase do cessar-fogo já foi concluída e que a segunda deverá avançar “muito em breve”, embora reconheça que será “mais difícil”, quase dois meses após ter entrado em vigor.

“Discutimos como acabar com o domínio do Hamas em Gaza. Concluímos a primeira fase. Esperamos agora avançar muito em breve para a segunda fase”, declarou.

A terceira etapa, acrescentou, terá início posteriormente.

No total, desde que Israel começou a sua ofensiva em Gaza como retaliação pelos ataques do Hamas em outubro de 2023, um total de 70.354 palestinianos morreram em ataques israelitas e 171.030 ficaram feridos, muitos com amputações e lesões para a vida, ao passo que 367 morreram desde a entrada em vigor da trégua, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas.

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