MÁRTIRES DE CHICAGO

Na América do Norte, entenda-se Estados Unidos e Canadá, o Labor Day é comemorado na primeira segunda-feira do mês de setembro. Esse dia serve para prestar homenagem aos trabalhadores e às conquistas sociais alcançadas desde o movimento operário que se notabilizou no final do século XX.

Tudo começou em 1886, nas ruas de Chicago. Os trabalhadores aglomeraram-se e reivindicaram a redução do horário de trabalho, que na altura era de 13 horas diárias. Houve confrontos durante a revolta e registaram-se algumas mortes que viriam a ficar imortalizadas como os mártires de Chicago.

Foi, portanto, na América do Norte que os trabalhadores operários impuseram a sua força e viram reconhecido, pelas autoridades, o direito a comemorarem uma data em sua própria homenagem e que se tornou universal. E é precisamente neste ponto que começam as divergências no que toca às comemorações. A origem americana mantém-se com o espírito sindical, enquanto no resto do mundo, nomeadamente na Europa e por influência da revolução socialista, o dia do Trabalhador adquiriu um maior sentido político.

Se na América as comemorações são em setembro, desde 1887, o resto do mundo celebra a data no dia 1 de maio, precisamente a data da revolta operária de Chicago. A razão por que os americanos alteraram a data ficou a dever-se ao facto de pretenderem evitar sentimentalismos mais agressivos e perturbadores. A data do Labor Day na América do Norte foi transferida para a primeira segunda feira de setembro, precisamente para não se recordarem mártires que à partida poderiam conduzir a sucessivos distúrbios, possivelmente maiores dos que estiveram na sua origem.

Em França, por exemplo, o Dia do Trabalhador só foi tornado feriado nacional, no século XX, no ano de 1919. Na Rússia, e já depois da revolução bolchevique, o trabalhador teve esse reconhecimento em 1920. Em Portugal passou a ser feriado nacional, somente, depois da revolução de abril de 1974.

Entre o domínio ideológico e o objeto racional das comemorações vai uma grande diferença e neste ponto, a América do Norte diferencia-se do resto dos países. Ontem, foi feriado em meio mundo e algumas forças políticas e sindicais deram as mãos e gritaram em uníssono os mesmos slogans e reivindicações. Tudo comandado por uma ideologia que ultrapassa o sentimento da data e os próprios trabalhadores.

Por outro lado, há muita gente que se serve da data, como feriado, para outras finalidades menos as de inspiração sindical, precisamente por contestarem a absorção e ocupação da data pelas forças políticas e que passaram a dominar os sindicatos, tratando-os, nalguns casos, como verdadeiras correias de transmissão. Afinal, o Dia do Trabalhador não tem de ser passado, forçosamente, em manifestações com reivindicações e palavras de ordem e de contestação, mas pode ser muito bem aproveitado para um verdadeiro dia de família ou de amigos.

A Direção