JOÃO BRANCO É SINÓNIMO DE TEATRO EM PORTUGUÊS HÁ 25 ANOS NO MINDELO

LusaMindelo, 17 fev (Lusa) – Filho de uma atriz e de um músico, cresceu atrás dos palcos, entre ensaios e espetáculos. No Mindelo, o nome de João Branco é sinónimo de teatro em português, mas sempre com um toque crioulo.

Filho da falecida atriz e gestora cultural Isabel Alves Costa e do músico José Mário Branco, o ator e encenador português João Branco, de 49 anos, confunde-se com o teatro em Cabo Verde, onde chegou em outubro de 1992 e veio a fundar, cinco meses mais tarde, o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português.

“Cheguei com um bilhete só de vinda e para ficar. Não sabia nada, nem sabia onde ficava Cabo Verde no mapa. Não tinha nenhuma ligação familiar, afetiva ou histórica a não ser o facto, que só vim a saber ‘a posteriori’, de o sítio onde fiz a minha primeira licenciatura ter sido o Instituto Superior de Agronomia, onde Amílcar Cabral fez a sua”, contou em entrevista à agência Lusa.

“Gosto de pensar que sou daqui, mas não sabia”, acrescentou, recordando os primeiros tempos de professor de Ciências da Natureza num liceu local e o curso de iniciação teatral que dinamizou e viria a dar origem ao grupo de teatro que completa 25 anos de atividade no domingo.

Em Cabo Verde, João Branco “profissionalizou-se” no teatro, estando ligado também a projetos como o Festival de Teatro Mindelact e, mais recentemente, à abertura da Academia Livre de Artes Integradas do Mindelo (ALAIM).

Desde 2014, é também diretor do Centro Cultural Português do Mindelo, do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.

“Muito do que aprendi em artes cénicas e o facto de me ter tornado quase num profissional do teatro aconteceu em Cabo Verde. Considero-me um agente teatral cabo-verdiano da cabeça aos pés porque toda a minha formação, quer autodidata, quer depois académica, foi já realizando este trabalho de produção e formação em Cabo Verde”, disse.

Com um quarto de século de existência e 54 peças encenadas e, muitas delas, também interpretadas, João Branco implementou uma metodologia de trabalho a que chama “crioulização cénica” e que, posteriormente seria a base para o seu doutoramento em Educação, Cultura e Artes.

“Não nos limitamos a adaptar ou a traduzir uma peça de teatro, apropriamo-nos de uma história que foi escrita num contexto histórico, geográfico e cultural diferentes e tornamos essa história cabo-verdiana”, disse.

Por isso, pelos palcos do Mindelo passaram “A Tempestade” e “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare, ou “A Casa de Bernarda Alba”, de Garcia Lorca, todas em versões adaptadas à realidade crioula.

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