Irão rejeita cooperar com EUA enquanto Washington apoiar Israel

Teerão, 03 nov 2025 (Lusa) — O líder supremo iraniano, Ali Khamenei, condicionou hoje qualquer cooperação do Irão com os Estados Unidos ao fim do apoio norte-americano a Israel e da intervenção no Médio Oriente.

“Só no caso de os Estados Unidos interromperem completamente o apoio ao maldito regime sionista (…) o seu pedido de cooperação com o Irão poderá ser considerado”, afirmou.

Além do apoio a Israel, o pedido só será considerado por Teerão se os Estados Unidos “retirarem todas as bases militares da região e deixarem de intervir nos assuntos” do Médio Oriente, acrescentou.

Khamenei discursava em Teerão num encontro com estudantes, universitários e familiares das vítimas da guerra de 12 dias com Israel em junho, durante a qual os Estados Unidos bombardearam instalações nucleares iranianas.

O encontro realizou-se nas vésperas do 46.º aniversário da tomada da embaixada dos Estados Unidos em Teerão, em 04 de novembro de 1979, que Khamenei descreveu como “um dia de orgulho e vitória”.

Foi um momento em que “se revelou a verdadeira identidade do governo arrogante dos Estados Unidos”, uma vez que a embaixada era “um ninho de conspirações” contra a Revolução Islâmica, disse Khamenei, segundo a agência de notícas espanhola EFE.

A embaixada foi tomada por estudantes iranianos depois de o xá Reza Pahlavi ter sido deposto em 11 de fevereiro de 1979, num processo revolucionário liderado pelo ‘ayatollah’ Ruhollah Khomeini de que resultou a proclamação da República Islâmica.

A embaixada esteve ocupada durante 444 dias, até 20 de janeiro de 1981, quando foram libertados 52 diplomatas e civis ali mantidos em cativeiro.

A crise abalou a presidência do democrata Jimmy Carter e só terminou no dia em que o republicano Ronald Reagan o substituiu.

Ali Khamenei disse no encontro de hoje que a diferença entre a República Islâmica e os Estados Unidos é uma diferença essencial e inerente que vai além de questões táticas.

“A natureza arrogante dos Estados Unidos não aceita outra coisa senão a submissão [dos outros povos], algo que todos os presidentes americanos desejaram, embora não o expressassem abertamente”, afirmou.

“No entanto, o atual presidente [Donald Trump] manifestou-o claramente, revelando assim a verdadeira essência dos Estados Unidos”, disse a mais alta autoridade política e religiosa do Irão.

O chefe da diplomacia iraniana, Ismail Baghaei, afirmou hoje que o Irão troca mensagens com os Estados Unidos através de intermediários, mas negou planos para retomar negociações com Washington sobre o programa nuclear de Teerão.

Teerão e Washington mantiveram cinco rondas de negociações indiretas com Omã como intermediário, entre abril e junho, sem sucesso.

As negociações foram interrompidas devido à guerra de 12 dias com Israel, na qual os Estados Unidos atacaram três instalações nucleares iranianas.

Os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, e Israel, inimigo declarado do regime iraniano, suspeitam há muito que o Irão pretende desenvolver armas nucleares.

Teerão nega veementemente ter tais ambições militares, insistindo no direito ao nuclear para fins civis.

Um anterior acordo com o Irão foi concluído em 2015, mas caducou com a decisão de Trump de retirar os Estados Unidos do pacto em 2018, durante o seu primeiro mandato presidencial (2017-2021).

O acordo envolvia também a China, a França, a Rússia, o Reino Unido e a Alemanha, e limitava o programa nuclear do Irão em troca do levantamento das sanções económicas.

Desde que regressou à Presidência, em janeiro, Trump tem apelado ao Irão para negociar um novo texto, mas ameaçando bombardear o país se a diplomacia falhasse.

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