
Nações Unidas, 10 nov 2025 (Lusa) – A Interpol defendeu hoje na ONU uma maior cooperação internacional para travar o comércio ilícito de armas ligeiras e de pequeno calibre, num momento em que mais de mil milhões de unidades deste tipo de armamento circulam globalmente.
Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), a representante da Organização Internacional de Polícia Criminal (INTERPOL) junto da União Europeia (UE), Roraima Ana Andriani, afirmou que o tráfico de armas ligeiras e de pequeno calibre é uma “cadeia transnacional de violência que só pode ser combatida através da cooperação transnacional”.
O comércio ilegal desta tipologia de armas “não é uma ameaça isolada”, alertou Andriani, frisando que alimenta e financia uma rede de crimes organizados transnacionais, que vão desde o terrorismo e o tráfico de droga até à mineração ilegal e ao contrabando.
Além disso, a Internet tornou-se “quer numa loja, quer num manual”, onde os criminosos encomendam peças e encontram instruções para construir armas baratas e não rastreáveis.
Ao salientar que a base de dados da Interpol é “a única base de dados global de armas de fogo perdidas, roubadas e traficadas”, Roraima Ana Andriani pediu ao Conselho de Segurança da ONU que reconheça o papel da organização nas suas resoluções sobre o tema.
Na mesma reunião, o representante do Escritório de Assuntos de Desarmamento da ONU, Adedeji Ebo, apresentou o mais recente relatório sobre o tema e indicou que a circulação global de mais de mil milhões de armas de fogo atualmente “é tanto um sintoma, quanto um fator determinante das múltiplas crises de segurança que o mundo enfrenta”.
O comércio ilícito e o uso indevido de tais armas alimentam a violência, o terrorismo e o crime organizado, conforme se tem observado nas persistentes violações do embargo de armas na Líbia, no Iémen, no Haiti e noutros países, deu como exemplo.
“Esta crise não é apenas uma questão de cadeias de abastecimento frágeis, mas também um sintoma de deficiências de governação”, afirmou o representante da ONU, salientando que, em alguns contextos de conflito, quase 90% dos casos de violência sexual envolvem o uso de armas de fogo.
Nesse sentido, Adedeji Ebo instou a comunidade internacional a dar prioridade à gestão de armas e munições ao longo de todo o seu ciclo de vida, assim como a partilhar as melhores práticas em matéria de gestão de reservas, reforçar os controlos fronteiriços e marítimos e explorar tecnologias inovadoras para a marcação e rastreabilidade do armamento.
O mais recente relatório da ONU, divulgado no mês passado, mostra que o desvio de reservas e depósitos de armas continuou a ser uma importante fonte de armamento para grupos terroristas, particularmente em regiões afetadas por conflitos.
O alto representante da iniciativa “Silenciando as Armas” da União Africana, Mohamed Ibn Chambas, alertou hoje que as armas de pequeno calibre estão a ser utilizadas para desencadear violência e sofrimento na região de Darfur, no Sudão, particularmente em Al-Fashir, onde as atrocidades “podem muito bem configurar limpeza étnica”.
Na reunião esteve igualmente presente Arnoux Descardes, diretor do grupo “Trabalho voluntário para o desenvolvimento do Haiti”, que afirmou que a circulação ilegal em larga escala de armas de fogo — apesar do embargo de armas da ONU imposto desde 2022 — continua a ser uma séria preocupação no país, em grande parte devido à fragilidade dos mecanismos de fiscalização e à prevalência de redes criminosas.
Estima-se que até 500 mil armas de pequeno calibre estejam atualmente a circular no Haiti, indicou, salientando que apenas cerca de 45 mil delas estão legalmente registadas.
Descardes manifestou apoio à prorrogação, por parte do Conselho de Segurança, do embargo de armas destinado a impedir que grupos não estatais no Haiti adquiram armamento, assim como à sua recente decisão de criar uma Força de Repressão de Gangues no país.
No encontro do Conselho de Segurança, os Estados Unidos pediram uma plena implementação dos embargos de armas da ONU e do apoio aos mecanismos de fiscalização.
“As atividades desestabilizadoras dos Huthis no Iémen seriam neutralizadas mais rapidamente se países como o Irão não lhes fornecessem armas e outros tipos de apoio”, disse a diplomata norte-americana Jennifer Locetta, apontando responsabilidades a “alguns membros do Conselho de Segurança que bloqueiam ações significativas para implementar sanções”, sem identificar diretamente nenhum país em particular.
“Os países lamentam o comércio ilícito de armas, ao mesmo tempo que procuram enfraquecer os embargos de armas e outras ações mandatadas pela ONU para conter o fluxo ilícito de armamentos”, criticou ainda.
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