As autoridades canadianas desencadearam na passada semana diversas ações com o objetivo de identificar e deter imigrantes ilegais.
A manhã de quinta-feira, foi particularmente agitada a norte de Toronto, no perímetro delimitado pela Weston Rd., a Keele St., a Hwy 401 e a Finch Ave, com agentes da Canada Border Services Agency (CBSA), da Ontario Provincial Police (OPP) e dos ministérios dos Transportes e do Ambiente, a efetuarem rusgas em parques de estacionamento de diversos cafés e estabelecimentos de restauração.
No período compreendido entre as 7 da manhã e a uma da tarde, aquele que para muitos seria mais um dia de trabalho, acabou por ser um pesadelo, terminando com 21 detenções por falta de documentos. Os agentes atuaram nas proximidades de estabelecimentos daquela área, como o Tim Hortons, o Coffee Time e o Country Style, que constituem o local de encontro e o ponto de partida param mais um dia de trabalho de muitos imigrantes.
Vanessa Barrasa, a porta-voz das autoridades disse que as detenções se deveram a “infrações relacionadas com a lei da imigração e do estatuto de refugiado”.
A natureza desta operação causou alguma surpresa, não só pelos meios envolvidos, mas, sobretudo, pelo motivo, uma vez que o pretexto utilizado pela polícia foi o da realização de uma “verificação de rotina da segurança dos veículos comerciais” em circulação naquela zona da cidade.
Ativistas contestam métodos das autoridades
Os defensores dos direitos dos imigrantes foram surpreendidos pela forma como a mesma foi desencadeada. Guidy Mamann, advogado de imigração, considerou que esta “não foi uma operação de rotina” e que constitui “um forte ataque à confiança pública”. O advogado acrescentou que “em vez de procurarem a segurança dos veículos, as autoridades estão a abusar do poder, utilizando-o como melhor entendem”.
Testemunhas presentes nos locais onde decorreram as rusgas, disseram que os agentes estavam dentro de veículos monovolume, não identificados, estacionados em diversos locais, e que saíram dos mesmos para pedirem identificação às pessoas que encontravam e que aparentavam ser imigrantes.
Sayed Hussan, que integra o grupo ativista “No One Is Illegal” referiu que naquela zona, durante a passada semana, foram presas mais de 50 pessoas. “Trata-se de uma limpeza. A polícia manda parar os carros na zona da Jane e Finch utilizando motivos relacionados com o tráfego, mas o objetivo real é racial, pedido a identificação e detendo muita gente”, declarou.
Vilma Filice, antiga presidente do Canadian Hispanic Congress, revelou que tem recebido muitas chamadas de membros da comunidade à procura de ajuda. Disse ainda que “as pessoas sentem-se usadas, pois as autoridades esperaram que a construção abrandasse para desencadear estas operações. Não é justo e, em vez de efetuarem prisões em massa, deveria ser pensada uma forma de regularizar o seu estatuto”.
O sistema de imigração tem vindo a sofrer algumas alterações nos últimos anos, com o governo Federal a utilizar o argumento de que o objetivo principal é defender os empregos dos canadianos.
As necessidades de trabalho em algumas áreas continuam a ser elevadas e a política de imigração continua a ser demasiado burocrática e não facilita em nada o processo de legalização.
Ao chegarem ao Canadá, muitos imigrantes deparam-se com um processo de legalização longo, com custos elevados e onde não faltam oportunistas. Para muitos, a opção é trabalharem ilegalmente para juntarem dinheiro e esperarem que as autoridades não os encontrem.
A CBSA desenvolve com alguma regularidade ações relacionadas com mandados de captura de imigrantes ilegais, sendo muito rara a atuação conjunta com outras forças policiais.
A título de exemplo, em 2006, foi desencadeada uma ação semelhante à agora efetuada nas imediações do Dufferin Mall, também em Toronto, que levou à detenção e à posterior deportação de muitos imigrantes ilegais portugueses e da América Latina.