
Lisboa, 28 nov 2025 (Lusa) — A família do líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, apelou hoje à atuação “imediata” da comunidade internacional para a reposição da ordem na Guiné-Bissau e libertação dos detidos.
Num “apelo urgente” publicado nas redes sociais do político, a família expressa revolta e inconformismo “perante a detenção flagrante, ilegal e absolutamente arbitrária” de Simões Pereira, assim como do deputado do PAIGC Octávio Lopes.
Os dois políticos terão sido detidos na quarta-feira, dia em que os militares tomaram o poder na Guiné-Bissau.
No apelo, a família pede a libertação dos dois, “bem como de todos os demais cidadãos injustamente privados da sua liberdade”.
“Esta afronta constitui uma violação gravíssima do Estado de Direito, um ataque à democracia na Guiné-Bissau e um desprezo pelos Direitos Humanos universais”, lê-se na publicação.
A família de Simões Pereira responsabiliza “direta e inequivocamente todos os autores morais e materiais desta repressão”, agradece ao povo guineense e a todos que têm demonstrado solidariedade e apela, “com firmeza redobrada, ao uso de todos os instrumentos legais, nacionais e internacionais, para exigir, sem hesitação, a libertação imediata e incondicional dos detidos”.
“Com caráter de urgência e de forma contundente”, pede também à CEDEAO (Comunidade Económica dos Países da África Ocidental) e à União Africana que “atuem de imediato, com determinação e coragem, para restaurar a ordem constitucional e garantir a liberdade dos detidos e de todos os cidadãos”.
“Da mesma forma, exortamos a Comunidade Internacional — incluindo as Nações Unidas, União Europeia e todos os parceiros bilaterais — a não se limitarem aos comunicados de condenação, mas a intervirem, de forma resoluta, para resgatar a democracia e a justiça em Guiné-Bissau”, acrescenta.
A família de Simões Pereira promete não baixar os braços “até que a liberdade dos detidos e de todos os cidadãos guineenses seja plenamente restaurada e respeitada”.
De acordo com os relatos que têm sido feitos sobre o sucedido, Domingos Simões Pereira encontrava-se na sede de campanha de Fernando Dias, o candidato independente às presidenciais, nas eleições de domingo, que o PAIGC apoiou, depois da exclusão do líder da corrida eleitoral.
O próprio Fernando Dias disse que conseguiu escapar de um alegado assalto por forças de segurança à sede de campanha e que Simões Pereira e Octávio Lopes foram presos.
Dias tinha reclamado vitória na primeira volta sobre o Presidente Umaro Sissoco Embaló e o golpe militar ocorreu na véspera da divulgação dos resultados eleitorais pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Hoje, os sindicatos do Ministério Público da Guiné-Bissau denunciaram, também, que cinco magistrados foram presos durante o processo de apuramento eleitoral.
Os magistrados, descrevem os sindicatos em comunicado a que a Lusa teve acesso, foram destacados para fiscalizar o processo de apuramento eleitoral na CNE, no Setor Autónomo de Bissau.
De acordo com o comunicado, os magistrados Cipriano Naguelim, José Biaguê Badó, Quintino Inquebi, Romelo Barai e Mário Ialá foram detidos na quarta-feira por homens armados não identificados, enquanto exerciam as funções.
Os sindicatos consideram que “a detenção constitui uma violação grave das prerrogativas da magistratura e representa um risco sério para a credibilidade das instituições e para a confiança dos cidadãos no sistema democrático”.
No comunicado, exigem “a libertação imediata e incondicional dos magistrados, bem como de todas as pessoas detidas fora dos parâmetros legais” e solicitam “uma intervenção urgente do Procurador-Geral da República, para assegurar a reposição da legalidade e a proteção institucional dos inspetores do Ministério Público”.
O general Horta Inta-A foi empossado Presidente de transição da Guiné-Bissau, numa cerimónia que decorreu no Estado-Maior General das Forças Armadas guineense, um dia depois de os militares terem tomado o poder no país, antecipando-se à divulgação dos resultados das eleições gerais de 23 de novembro.
Os militares anunciaram a destituição do Presidente Umaro Sissoco Embaló, suspenderam o processo eleitoral, os órgãos de comunicação social e impuseram um recolher obrigatório.
As eleições, que decorreram sem registo de incidentes, realizaram-se sem a presença do principal partido da oposição, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), e do seu candidato, Domingos Simões Pereira, excluídos da disputa e que declararam apoio ao candidato opositor Fernando Dias da Costa.
Simões Pereira foi detido e a tomada de poder pelos militares está a ser denunciada pela oposição como uma manobra para impedir a divulgação dos resultados eleitorais.
*** A delegação da agência Lusa na Guiné-Bissau está suspensa desde agosto após a expulsão pelo Governo dos representantes dos órgãos de comunicação social portugueses. A cobertura está a ser assegurada à distância ***
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