
Caracas, 14 jun 2025 (Lusa) — Familiares de Rodrigo Cabezas disseram que desconhecem o paradeiro do economista, ex-ministro e professor universitário depois de ter sido detido, na quinta-feira, pelo Serviço Bolivariano de Inteligência, os serviços de informações da Venezuela.
“Não sei o paradeiro do meu pai (…) temo muito pela sua saúde, pois é um doente cardíaco, que faz um tratamento cardiovascular que deve cumprir diariamente por ter um estenose [estreitamento anormal de um vaso sanguíneo] e ser paciente hipertenso”, denunciou sexta-feira a filha, Rodna Cabezas.
Em um vídeo divulgado nas redes sociais, a filha do ex-ministro solicitou ao procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, “uma prova de vida” do pai, que lhe seja cumprido e garantido o devido processo legal e os direitos humanos.
Ex-ministro da Economia e Finanças do falecido presidente Hugo Chávez (1999-2013), Rodrigo Cabezas tem sido, segundo o Programa Venezuelano de Ação e Educação em Direitos Humanos (Provea), “um crítico ferrenho da política económica e do autoritarismo de [o Presidente] Nicolás Maduro”.
“A sua detenção ocorre em meio da incessante escalada repressiva do Estado, que agora se volta contra os críticos da grave crise económica que o país atravessa”, explica o Provea na rede social X.
A líder da oposição Maria Corina Machado denunciou nas redes sociais a inexistência de uma ordem de um tribunal para a detenção de Cabezas e disse que “nas últimas horas se intensificou o terrorismo de Estado” no país.
“Economistas são presos por alertar sobre o aumento descontrolado da inflação e vendedores ambulantes por venderem em dólares ao preço de mercado. Na sua loucura delirante, [o regime] acredita que reprimindo o dólar e negando a inflação vão impedir que a realidade se imponha”, sublinha.
Em um comunicado, o Observatório Venezuelano de Finanças (OVF) manifestou “a mais veemente condenação à perseguição, ao assédio e à criminalização de pessoas que recolhem, analisam e divulgam dados estatísticos relevantes para a compreensão da economia venezuelana”.
“Atacar quem gera e compartilha dados económicos confiáveis não só viola princípios democráticos fundamentais, mas também limita a compreensão coletiva da realidade nacional”, explicou o OVF.
Rodrigo Cabezas, 68 anos, é um economista, político e professor universitário venezuelano, conhecido principalmente por ter sido ministro das Finanças da Venezuela entre 2007 e 2008, num Governo liderado por Hugo Chávez.
Em fevereiro de 2022, Cabezas apoiou publicamente o opositor e ex-presidente do parlamento Juan Guaidó que, três anos antes, se declarou presidente interino da Venezuela prometendo afastar Nicolás Maduro.
Segundo dados recentes divulgados pela organização não governamental Foro Penal, estão detidas na Venezuela 927 pessoas por motivos políticos.
FPG // VQ
Lusa/Fim