Em estado de emergência, celebramos vitórias

Correio da Manhã Canadá

Nunca a expressão “estado de emergência” apareceu tanto nas notícias como nos últimos tempos. Quer seja em Portugal, no Canadá ou em qualquer parte do mundo, a pandemia virou as sociedades do avesso, aproximando-as de uma verdadeira circunstância de guerra. Mas este fim de semana, a expressão voltou a marcar a atualidade canadiana e não foi propriamente por causa do perigo de contágio de Covid-19. Numa situação descrita como “fora do controlo”, fez manchetes por causa de protestos de proporção inédita e com particularidades, para alguns, preocupantes.

Falamos, claro, do ‘Freedom Convoy’ em Ottawa, que já contabiliza centenas de multas e de investigações do foro criminal, ocupando também a agenda noticiosa internacional. As manifestações na capital canadiana têm sido mesmo notícia em Portugal, granjeando elogios de Donald Trump e de Elon Musk e críticas dos habitantes da cidade, que têm feito viralizar as hashtags #GoHomeConvoy ou #GoHomeFluTruxKlan nas redes sociais.

A intensidade dos protestos prontifica análises. O que se passa, afinal, em Ottawa? Em que medida são estas reivindicações razoáveis? Ser o espelho de um descontentamento geral no Canadá ou refletem apenas o sentimento de alguns?

Há quem diga que o estado de emergência em Ottawa no contexto do protesto dos camionistas mostra que os ‘trumpistas’ do Canadá estão a crescer. As mesmas vozes alertam que quem está a ser apanhado de surpresa pela intensidade das manifestações não tem prestado a devida atenção à emergência de extremismos no discurso político do país.

Outros, contudo, desvalorizam os protestos, sublinhando a ausência de armas ou agressões. Há vulgaridade, cacofonia, provocações e ameaças da extrema direita, mas não passa disso. Os manifestantes poderão permanecer em Ottawa durante meses, como ameaçam, mas é pouco provável que convençam a sociedade canadiana, que preza mais a ordem, patente nas restrições de saúde pública, do que o que o grupo considera ser ‘liberdade’.

E enquanto isso, em Portugal, o estado de espírito é outro. Depois da vitória da seleção portuguesa no europeu de futsal, os portugueses inauguraram a semana com mais do que motivos para celebrar. Não podemos deixar, neste contexto, de destacar Jorge Braz, o selecionador nacional nascido em Edmonton, no Canadá, que há poucos meses marcou presença numa entrevista exclusiva neste jornal.

“O Canadá é muito especial”, disse-nos na ocasião, o que nos leva a pensar que, mais do que lamentar protestos, também é hora de celebrarmos as vitórias que unem ambos os países.