E depois da reabertura?

Correio da Manhã Canadá

No dia 2 de maio, à meia noite, Portugal foi palco de uma mudança importante. O fim do estado de emergência e o início do estado de calamidade fez o país “descer um degrau no nível de contenção” do coronavírus, como descreve o primeiro-ministro, António Costa, inaugurando-se assim a fase da reabertura gradual da sociedade portuguesa.

A decisão levanta medos, já que a única solução que representa o fim desta crise – uma cura ou vacina – ainda não foi descoberta. Com efeito, a transição é feita com base no cenário otimista que se vive em Portugal e que assenta no “achatar” da curva e na situação de controlo do Serviço Nacional de Saúde, que está agora mais equipado e não sofreu, à semelhança dos Estados Unidos da América ou de Itália, os horrores de uma sobrecarga de casos.

Não é só isso, no entanto, que justifica a reabertura gradual de Portugal e das demais sociedades do mundo, nomeadamente do Canadá. A convicção latente de que ninguém aguentará a pressão do confinamento até à eventual – e incerta – descoberta da cura é o que orienta as condutas políticas nesta fase, que procuram, em terrenos pantanosos, um equilíbrio entre a retoma da economia e a manutenção dos progressos alcançados até agora.

No Canadá, a reabertura das províncias também tem marcado a atualidade, com discursos contraditórios em relação ao regresso à vida “normal”. François Legault, premier da província canadiana com maior número de mortes e diagnósticos – o Quebec –, tem sido criticado por querer reabrir a região demasiado cedo. Pais e professores, por exemplo, temem o regresso das crianças às aulas em pouco mais de duas semanas, numa altura em que as mortes na província continuam a aumentar.

Por outro lado, em Ontário, há quem conteste o confinamento. “Abram a economia agora”, pôde ler-se nos cartazes de uma manifestação anti quarentena, que reuniu quase 300 pessoas no passado sábado. Na província mais populosa do Canadá, a reabertura anda um passo mais lento, mas há no discurso do premier Doug Ford um aspeto partilhado com o seu homólogo do Quebec: ambos distinguem o combate em geral e o combate nos lares de idosos, onde a situação é muito mais grave.

No que toca à reabertura, cada um dita o seu próprio ritmo, entre gráficos, curvas e números que insistem em variar. A imprevisibilidade da covid-19 é, afinal, a sua grande característica, e vai continuar a justificar, legitimamente, os passos em frente e os passos atrás de quem nos governa. No final de contas, a maior certeza que nos resta é a de que evitar danos maiores continua nas nossas mãos. Com ou sem reabertura, o vírus é o mesmo e continua por aí.