
Jerusalém, 06 abr 2022 (Lusa) — A coligação do primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, no poder há menos de um ano, perdeu hoje a maioria no Parlamento, após a saída surpresa de um deputado de direita.
O deputado Idit Silman, eleito pelo partido radical de direita Yamina, de Bennett, abandonou a coligação esta manhã – que detinha 61 lugares no Parlamento, o limiar da maioria no Knesset, um hemiciclo com 120 deputados — e já começou a ser abordado pelo líder da oposição, Benjamin Netanyahu.
“Tentei o caminho da unidade. Trabalhei muito por esta coligação, mas infelizmente não posso prejudicar a identidade judaica de Israel”, disse Silman num comunicado.
Naftali Bennett e o centrista Yair Lapid tinham formado uma coligação, em junho passado, apoiada por 61 deputados, reunindo a esquerda, o centro, os partidos de direita e uma formação política árabe, a primeira na história do país, tendo conseguido derrubar a hegemonia de 12 anos consecutivos de poder de Benjamin Netanyahu.
“Idit, você acabou de provar que o que guia a sua ação é a identidade judaica de Israel, a terra de Israel. E eu dou-lhe as boas-vindas de volta ao campo nacional”, disse Netanyahu, que dirige um bloco político que reúne o seu partido, o Likud, formações judaicas ortodoxas e a extrema-direita.
O trabalho legislativo no Parlamento está atualmente suspenso e o orçamento, que deve ser aprovado por maioria para evitar a dissolução, já foi aprovado pela maioria dos deputados.
A coligação de apoio ao Governo israelita tem agora 60 deputados, tantos quanto a oposição, que precisa apenas de seduzir mais um deputado para poder apresentar uma moção de censura, podendo levar a novas eleições antecipadas.
“Este é um momento difícil para a coligação. Crises acontecem na política e este é particularmente difícil”, comentou o líder do Partido Trabalhista (de esquerda) e ministro dos Transportes, Merav Michaeli.
Benjamin Netanyahu, que tenta regressar ao poder, apesar de estar a ser julgado por corrupção, convocou hoje outros deputados de direita do Governo, pedindo para se juntarem ao seu bloco político.
“O Governo está prestes a cair. Não vou citar nomes, mas há outros desertores. Estamos em diálogo com outros dois deputados que estão a ponderar a ideia de se juntar ao nosso grupo”, disse Miki Zohar, deputado do Likud.
A saída do deputado Silman ocorre após um desentendimento, esta semana, com o ministro da Saúde, Nitzan Horowitz, quando este pediu aos hospitais, cumprindo uma decisão do Supremo Tribunal, para permitir a distribuição de pão de fermento – e não sem fermento, como dita a tradição judaica – durante a Páscoa, na próxima semana.
Contudo, vários analistas políticos questionam se essa será a única razão para o abandono do deputado, lembrando as tensões dentro da coligação de apoio ao Governo, que reúne a direita radical e os deputados árabes.
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