COISAS DE REIS E VIDA REAL

O Canadá é uma democracia parlamentar num regime de Monarquia Constitucional, sendo a Rainha de Inglaterra a Chefe de Estado. Desde o início deste mês ficamos a conhecer mais uma figura na hierarquia da sucessão ao trono de Inglaterra e consequentemente à chefia de Estado do Canadá. Charlotte Elizabeth Diana, com poucos dias de vida, é a quarta na linha de sucessão, depois do seu irmão, do seu pai William e do seu avô Charles. O nome escolhido caiu bem na opinião pública britânica, porque Charlotte é o feminino de Charles, seu avô; Elizabeth é igual à sua bisavó e atual Monarca; e Diana é nem mais nem menos do que uma homenagem à sua falecida avó, a princesa do povo. Apesar do agrado geral, esta escolha foi envolta em alguma polémica, uma vez que a Rainha não pretendeu associar este ato a nenhuma homenagem a Diana.

Depois de mais este conto e encanto de coisas de reis, os britânicos tiveram, rapidamente, de esquecer a escolha de nomes reais e passaram à vida real com a responsabilidade de escolher o próximo Governo, pois essa passou a ser a sua verdadeira preocupação face ao futuro e numa altura em que a Inglaterra se esforça por uma forte afirmação no espaço europeu e mundial. Apesar de as sondagens terem garantido o maior empate de sempre, na realidade tudo foi diferente. Os conservadores de David Cameron venceram de forma inequívoca e vão continuar a governar durante os próximos cinco anos.

A seguir aos Estados Unidos, a Inglaterra é o país que mais recebe investimento estrangeiro. Ninguém desejaria ver alterada esta vantagem e na hora da verdade os britânicos manifestaram a sua veia conservadora e preferiram a certeza em detrimento da aventura e do desconhecido. Os recentes resultados eleitorais vieram provar que uma coisa é o que se diz e outra o que se faz. A instabilidade que foi criada com as sondagens caiu por terra e o Reino Unido continua caracterizado por uma sociedade globalizada, aberto ao mundo e a todas as oportunidades.

A Escócia manifestou a sua identidade própria. Apesar de no recente referendo, sobre a possibilidade de independência, ter ganho, por uma pequena margem, a manutenção no Reino Unido, agora os escoceses aproveitaram para mostrar a sua força e a sua vontade de serem diferentes dos demais britânicos. Perante tamanha confusão lançada com as últimas sondagens, a Rainha tinha advertido que só receberia alguém depois de um prévio entendimento entre partidos, porque o tempo real não se coaduna com indefinições. E, afinal, não foi preciso esperar muito. No dia a seguir às eleições David Cameron recebeu o aval real para continuar à frente dos destinos britânicos.

Esta paz agora conseguida tem, no entanto, alguns assuntos a resolver. Na Inglaterra, ser anti europeu dá sempre votos. Cameron prometeu um referendo sobre a permanência no seio da União Europeia e será que o vai promover em 2016? Na política, o que se disse ontem pode não ser o que se faça amanhã. E tendo em atenção o desastroso resultado do partido anti europeu (UKIP), há sempre a possibilidade de Cameron se refugiar nisso e evitar mais uma consulta popular que não agrada a investidores e não serve nem os interesses britânicos nem os europeus.

A Direção