Cabo Verde/Eleições: Carlos Veiga quer ser eleito já no domingo e crítica candidatos de “oposição ao Governo”

Santa Cruz, Cabo Verde, 14 out 2021 (Lusa) – O candidato a Presidente da República cabo-verdiano Carlos Veiga disse hoje ter condições para ganhar já no domingo e que é o único capaz de dar “estabilidade política” ao país, porque os restantes pretendem ser “oposição ao Governo”.

“Nós já vimos os debates, já vimos os programas que cada um dos candidatos apresentou e de facto a maior parte deles ou não entende a Constituição ou não quer desempenhar o papel que se estabelece para o Presidente na Constituição. Quer ser um ‘supragoverno’ ou quer ser oposição ao Governo. Não é esse o papel do Presidente. O papel do Presidente é de moderador e, portanto, o Presidente tem de trabalhar com o Governo que já tem um programa aprovado pelo parlamento”, afirmou Carlos Veiga, à Lusa, ao ser recebido em apoteose pelos apoiantes em Santa Cruz, ilha de Santiago.

Pelas 16:00, ainda com sol forte e ao som dos batuques e dos apitos, Kalu — alcunha de infância adotada pela campanha -, de 71 anos, faz-se à estrada e segue a pé na direção de Santa Cruz, num percurso de alguns quilómetros sempre rodeado dos apoiantes, incentivados pelas mensagens de um dos vários carros de som que seguem atrás: “Kalu, Kalu, Cabo Verde está com bô [contigo]”.

O mote da estabilidade estava dado e Carlos Veiga explica-o à Lusa: “Nós não podemos ter o eleitorado a votar por quem quer que governe e por quem quer que seja maioria parlamentar em abril [últimas legislativas, vitória do MpD], e agora termos candidatos a Presidente da República a quererem alterar radicalmente esse tipo de confiança”, enfatizou, defendendo que o chefe de Estado deve “trabalhar com todos os outros órgãos de soberania, em separação e independência”, com “espírito de união”.

Carlos Veiga foi o primeiro primeiro-ministro de Cabo Verde eleito em eleições livres (1991) e um dos autores da Constituição de 1992, liderou o Movimento para a Democracia (MpD), partido que o apoia e atualmente é liderado por Ulisses Correia e Silva, que é também primeiro-ministro.

Embora sem o dizer diretamente, o principal alvo das críticas é José Maria Neves, outro dos dois ex-primeiro-ministros eleitos democraticamente na história de Cabo Verde (2001 a 2016), neste caso pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição), com quem disputa diretamente a eleição de domingo (primeira volta).

“Nunca um Presidente da oposição. Como bem diz o presidente da UCID [outro dos partidos que apoia a sua candidatura], a oposição faz-se no parlamento. A oposição e a situação, este diálogo e este debate é feito no parlamento. O Presidente não pode ser a terceira força da oposição [dois partidos da oposição representados no parlamento], de forma alguma”, atirou Carlos Veiga.

Junto à estrada, Maria Tavares, de 36 anos, deixou por algumas horas o trabalho de abate de animais para esperar pelo candidato, para lhe dar o apoio.

“Kalu representa a força de Cabo Verde, liberdade, democracia, principalmente para nós mulheres, que somos vendedoras, chefes de família”, explicou, orgulhosamente vestida com a propaganda do candidato.

Da mesma forma, partilhou igualmente a preocupação com a estabilidade política em Cabo Verde, que tem sido o principal mote da candidatura de Veiga.

“Acho que devemos votar no Kalu porque quando temos outra pessoa da oposição sempre traz dificuldade. Eu como mulher, chefe de família, quando tenho outro opositor fica mais complicado, só me queria dificuldade para criar os filhos”, atira, para logo a seguir vaticinar: “Se o Neves ganhar, o Ulisses [primeiro-ministro] vai ter muitos problemas”.

Na véspera do fecho da campanha eleitoral para estas eleições, o candidato, um dos mais prestigiados juristas do país, insiste na importância de cumprir as funções de Presidente da República, a que tenta chegar pela terceira vez, depois de falhar a eleição em 2001 e 2006. Nomeadamente “seguir a execução” do programa de Governo aprovado no parlamento, neste caso em maio passado, após a vitória do MpD nas legislativas.

“Ajudar naquilo que for de ajudar, de sugerir alterações naquilo que considere ser necessário, sempre balizado pela Constituição. Eu acredito que nessas circunstâncias, é a minha candidatura que garante a estabilidade, que é um valor fundamental para Cabo Verde. A estabilidade institucional governativa, a estabilidade política, do nosso sistema, que é o nosso maior cartão de visita”, afirmou.

Santa Cruz, município do litoral este da ilha de Santiago, é bastião histórico do PAICV, por onde os carros de som apoiando a candidatura de José Maria Neves se fazem sentir intensamente. Ainda assim, João Borges, 49 anos, motorista, tirou o dia para ajudar a transportar outros apoiantes para receberem Carlos Veiga à entrada de Santa Cruz.

“É um homem que fez muito por Cabo Verde. É um homem social, que gosta do povo, que trabalha com o povo, ajudou o povo de Cabo Verde, trouxe a democracia para Cabo Verde, deu-nos liberdade para falarmos tudo”, justifica.

“A minha vontade é que ganhe. E acho que vai ganhar mesmo. Temos confiança, moral, a vitória vai ser dele”, atirou.

Pouco depois era a vez de o candidato partilhar do otimismo: “A campanha está a correr bem, aqui em Cabo Verde e nas comunidades emigradas. Estou a sentir-me muito bem acolhido, muito bem apoiado. Estou satisfeito e estou convencido que vou ganhar as eleições. Desta vez vou ganhar as eleições”.

Carlos Veiga vai mais longe e assume ter condições “para ganhar já no domingo” — a eleição presidencial obriga a uma maioria absoluta de votos de um candidato – e com isso evitar uma segunda volta.

“Mas isso vai depender, com certeza, da forma como as pessoas se dirigirem às urnas. Eu acredito que os cabo-verdianos vão votar e eu vou, nestes últimos dias, fazer um apelo muito intenso para que as pessoas vão votar. É fundamental em eleições presidenciais que o eleitorado vote, quantos mais votos tiver mais legitimado fica o Presidente [eleito]. Portanto, eu vou fazer um apelo forte ao voto, para que esse apoio que eu tenho sentido se traduza efetivamente em votos e em vitória”, concluiu.

O Tribunal Constitucional admitiu um recorde de sete candidaturas a estas eleições, em que podem votar quase 400 mil cabo-verdianos.

A campanha eleitoral encerra sexta-feira às 23:59 e em caso de uma segunda volta, vai acontecer em 31 de outubro.

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