BARALHA E VOLTA A DAR

Portugal viveu um impasse durante 20 dias. Desde a demissão do ministro Vítor Gaspar, logo seguida pela célebre demissão irrevogável do ministro Paulo Portas, aconteceu um pouco de tudo. Soaram todos os alarmes, os mercados deram de imediato as primeiras indicações negativas e a uma crise económica, juntava-se uma crise política.

O Presidente da República mais uma vez ouviu todos e para todos falou. Impôs como condição essencial, para ultrapassar a crise e reganhar a confiança internacional, que fosse alcançado um compromisso de salvação nacional entre os três partidos que tinham assinado, com a Troika, o memorando de entendimento (PSD, PS e CDS).

Seguiram-se seis dias de profundo silêncio e de sucessivas reuniões nas casas uns dos outros, para manter equilíbrios. Até o Presidente da República se ausentou para o local mais isolado do mundo, as ilhas selvagens, a sul da Madeira. Mas uma coisa pairava no ar: dificilmente iria haver acordo tendo presente como tudo começou.
O Presidente, depois de ouvir todos, partidos e parceiros sociais, convidou os três partidos. Os socialistas, numa postura mais papista que o Papa, anunciaram que só entrariam nesta jogada se fossem todos a jogo. E, vai daí, encarregaram-se eles próprios de fomentar reuniões, à margem, com PCP, Bloco de Esquerda e os Verdes. No final, levaram a respetiva nega e viraram-se para a mesa onde estavam convocados.

Pelo meio, uma moção de censura ao Governo no Parlamento apresentada pelos Verdes. Não passou porque a maioria manteve-se unida e os socialistas que negociavam com a maioria o tal compromisso de salvação nacional manifestavam a sua total oposição ao lado dos Verdes. Depois vieram as pressões internas e, num mesmo dia, Mário Soares e Manuel Alegre (que já conheceram a famosa relação amor/ódio) disseram tudo: o PS seria dividido se assinasse o tal compromisso de salvação nacional. Mário Soares esqueceu-se que ele próprio, e em anos de profunda crise, quando era Primeiro-Ministro, chamou a si o CDS e mais tarde o PSD para os mesmos objetivos.

Caía por terra a máxima de Sá Carneiro: primeiro o País, depois o partido e só depois nós próprios. E foi com esta linha de pensamento que ao fim de seis dias de negociação Portugal ficou a saber, oficialmente, que os três partidos não chegavam a acordo. Tanta reunião para nada, um autêntico exercício de hipocrisia.

Então, voltou tudo ao mesmo. Sem compromisso, mas com maioria no Parlamento, o Presidente anunciou que o Governo poderia seguir em frente por mais dois anos. As reações foram as esperadas. Internamente, uma mistura de elogios e chuva de críticas; e fora de portas, os mercados reagiram com otimismo: a bolsa de Lisboa valorizou de imediato e os juros baixaram. Foram 20 dias.

A Direção