Banco central timorense prevê crescimento mais lento em 2023 que no ano passado

Díli, 26 mai 2023 (Lusa) — O Banco Central de Timor-Leste prevê que a economia timorense tenha um crescimento positivo este ano, mas inferior aos 4% registados no ano passado, indica o relatório anual da instituição reguladora timorense hoje divulgado.

Para 2023, o banco central projetou um crescimento económico bastante positivo sobretudo devido a uma perspetiva de abrandamento do contributo do crescimento da procura interna este ano “face ao observado em 2022”, indicou o governador da instituição, Abraão Vasconselos, na nota introdutória do relatório de 2022.

“Consequentemente, é importante sublinhar o positivo e maior contributo que o setor externo terá sobre o crescimento económico no ano corrente”, destacou.

O Banco Central de Timor-Leste (BCTL) notou que o aumento de 4% da economia no ano passado, um crescimento de 1,1 pontos percentuais face a 2021, se deveu em grande parte ao “aumento da despesa pública em 299 milhões de dólares [278 milhões de euros], e que segue o ritmo de aumento da despesa pública observada em 2021 (306 milhões de dólares)”.

O BCTL alertou, porém, “para os riscos que a expansão sucessiva da política orçamental pode ter na sustentabilidade das contas públicas de Timor-Leste e, por conseguinte, prejudicar o desenvolvimento económico mais robusto do setor privado da economia”.

No que se refere à política orçamental, Abraão de Vasconselos referiu o “expressivo aumento da despesa e do défice público, devido, sobretudo, ao crescimento da despesa corrente (mais 236 milhões de dólares), em linha com o aumento do respetivo orçamento”.

“Para 2023, o BCTL espera um novo aumento da despesa e do défice orçamental público, maioritariamente explicados pela recuperação da capacidade de execução do investimento em infraestruturas e edifícios, pelo que a política orçamental continuará a suportar a recuperação económica da crise pandémica de 2020”, considerou.

Timor-Leste não escapou às tendências inflacionistas mundiais, com a taxa de inflação média a situar-se em 7,0% no ano passado, acima dos 3,8% e 0,5% de 2021 e 2020, respetivamente.

Uma aceleração dos preços para a qual “contribuíram os constrangimentos produtivos e logísticos mundiais em 2022, bem como ao surgimento da guerra na Ucrânia que colocou pressão sobre as matérias-primas alimentares e energéticas”.

Timor-Leste registou um aumento significativo do défice da conta corrente externa em 2022, registando um valor negativo de 950 milhões de dólares (885 milhões de euros), “explicado essencialmente por um crescimento acentuado das importações de bens e de serviços”.

Ainda que as receitas petrolíferas tenham continuado a cair, “continuam ainda a ser um fator de mitigação do impacto do elevado défice da balança comercial da economia” timorense.

Apesar dos desafios, o setor financeiro do país “continuou a manter-se robusto e a registar um elevado dinamismo em termos do crescimento da sua atividade, ativos e recursos captados, com aumentos quer de depósitos quer de créditos”, destacou.

Em 2022, as contas do BCTL registaram um resultado líquido positivo de cerca de 4,8 milhões de dólares (4,5 milhões de euros), “gerado, essencialmente pelos juros recebidos das aplicações das reservas do BCTL e pelas receitas provenientes das taxas de gestão do Fundo Petrolífero”.

Entre as iniciativas realizadas pelo BCTL, destaque para a iniciativa “Campo Digital”, de promoção do conhecimento e da utilização das ferramentas tecnológicas para atividades financeiras nas zonas rurais do país.

A nível do sistema de pagamentos no país, destaque para a implementação de funcionalidades adicionais no sistema R-TiMOR, permitindo o pagamento de impostos em caixas automáticas ou através de carteiras de dinheiro eletrónico (‘e-wallet’).

Por outro lado, continua em curso a implementação do projeto de interligação “da rede P24 com uma rede de pagamentos Indonésia a cargo do BCTL” para possibilitar a utilização de cartões bancários timorenses em bancos na Indonésia, indicou.

O Banco Nacional Ultramarino (BNU), em colaboração com a Mastercard, o BCTL e o provedor de serviços, conseguiu atingir 92% de desenvolvimento para uso do cartão Mastercard em Timor-Leste, operação que esperam poder implementar num futuro próximo.

A concretização deste projeto vai permitir aos titulares de cartões Mastercard internacionais efetuar transações em ATM (multibanco) e POS (pontos de venda) do BNU-Timor P24.

 

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