Autoridade Palestiniana alerta para risco de caos em Gaza

Ramallah, Palestina, 29 out 2025 (Lusa) – O primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana alertou hoje que a Faixa de Gaza corre o risco de mergulhar no caos e lamentou a demora na obtenção de um consenso que permita à entidade gerir o território.

Em comunicado divulgado pelo seu gabinete, Mohamed Mustafá sustentou que o “elevado preço” pago pela população da Faixa de Gaza “não deve terminar em caos ou em acordos que consolidem o ‘status quo'” no enclave palestiniano.

O dirigente das autoridades de Ramallah, que falava no início de uma reunião do conselho de ministros, advertiu também que a causa palestiniana não deve ser reduzida a uma “mera questão humanitária”.

Nesse sentido, insistiu na necessidade de uma posição nacional palestiniana que confronte as políticas de ocupação de Israel e permita ao Governo “assumir o seu papel no terreno em Gaza”.

As declarações de Mustafa surgem um dia depois de Israel ter bombardeado a Faixa de Gaza, sob a justificação de que o grupo islamita palestiniano Hamas violou o acordo de cessar-fogo, em vigor no território desde 10 de outubro.

“Durante a sessão, o executivo apelou à comunidade internacional para que interceda junto de Israel, a potência ocupante, para que cesse os seus ataques em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém”, afirma ainda o comunicado, que não faz referência à última vaga de bombardeamentos israelitas.

A Autoridade Palestiniana, presidida por Mahmoud Abbas, governa partes da Cisjordânia, enquanto a Faixa de Gaza permanece sob o controlo do seu rival Hamas.

O acordo de cessar-fogo assinado por Israel e pelo Hamas estipula que a Autoridade Palestiniana assumirá um papel administrativo na Faixa de Gaza no futuro, após a conclusão de uma série de reformas que o entendimento não detalha nem define prazos.

O Hamas, por sua vez, afirma ter chegado a um acordo com a Fatah (a principal fação dentro da Autoridade Palestiniana) para criar um órgão tecnocrático independente para gerir o enclave.

Os hospitais e a Defesa Civil das autoridades do enclave palestiniano, controladas pelo Hamas, registaram pelo menos 110 mortos, incluindo 46 crianças, em resultado dos bombardeamentos realizados na terça-feira à noite e madrugada de hoje.

Já hoje, e depois de ter anunciado que regressava ao cessar-fogo, Israel voltou a bombardear um alegado depósito de armas no norte da Faixa de Gaza, para “eliminar uma ameaça de ataque terrorista”.

Nos primeiros dias do cessar-fogo, o Hamas entregou os últimos 20 reféns vivos que mantinha no enclave palestiniano, mas desde então apenas 15 dos 28 que estavam mortos, alegando dificuldades em encontrar os corpos entre os escombros do território devastado por mais de dois anos de conflito.

Em troca dos reféns, Israel libertou quase dois mil presos palestinianos e entregou 195 corpos.

A primeira fase do acordo, impulsionado pelos Estados Unidos e negociado ao longo de vários dias com a mediação de outros países (Egito, Qatar e Turquia), prevê a retirada parcial das forças israelitas do enclave e o acesso de ajuda humanitária ao território.

A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e 251 foram feitas reféns.

Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza, que causou mais de 68 mil mortos, segundo as autoridades locais, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.

 

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