AS POUPANÇAS DE UMA VIDA

Desde que o Grupo Espírito Santo ruiu e como consequência direta se viu afetada uma boa parte da economia portuguesa, que não param as manifestações organizadas às portas das agências do extinto BES, agora Novo Banco, dos clientes e investidores de papel comercial e que de um dia para o outro perderam os valores que admitiram estarem seguros e em boas mãos para fazerem crescer o que tinham poupado durante a vida.

Essas manifestações veem-se por todas as cidades onde há uma agência do Novo Banco. Há dias aconteceu em Paris e onde uma senhora bem portuguesa, residente na capital francesa há muitos anos, lamentava-se que o País que a viu partir por não lhe proporcionar boas condições de vida, foi atrás dela através de instituições como a banca e aconselharam-na a fazer as poupanças no seu Portugal. Rendeu-se a essa evidência e foi mais longe ao apostar forte no que lhe fizeram crer de que iria obter mais benefícios e de forma rápida e fácil, desde que apostasse na compra de papel comercial sólido, mas que ninguém poderia garantir. Um paradoxo que saiu caro a muita gente e a essa senhora em especial, que terminou o seu comentário com o lamento de que o País que nada lhe deu e a obrigou a emigrar, também a fez ficar sem nada.

Essa senhora, como muitos outros milhares de depositantes do BES, apresenta as suas razões e reclama as suas economias. O argumento é correto e justo, mas também é verdade que nenhum depositante do BES, credor de papel não especulativo, viu a sua situação prejudicada. Quem, efetivamente, perdeu foram os clientes que apostaram em papel de risco, sujeito a grandes lucros e, naturalmente, a enormes perdas. Só que, até à data, nunca tal coisa se tinha verificado na banca portuguesa à dimensão do BES. E até surgir o primeiro caso, todos acreditavam que o risco é sempre para os outros e que a nós nunca, ou raramente, chega a desgraça.

Mas também é do conhecimento geral que situações destas têm acontecido com grandes instituições de outros países e que seria impossível imaginar. Por exemplo, depois da crise de 2008, só nos Estados Unidos faliram 140 bancos em 2009 e outros 57 bancos no ano seguinte, tendo sido encerrados pelo órgão regulador. Na Islândia assistiu-se à falência do sistema bancário e mais de meio milhão de depositantes estrangeiros perderam tudo, de um dia para outro, perante a passividade das autoridades.

Com tudo isto, não queremos desvalorizar as preocupações dos cidadãos e depositantes em instituições bancárias como o ex-BES, mas tão só dizer que também há clientes enganados porque se deixam levar pela ganância do lucro rápido e fácil. Confiar a 100% num sistema ou numa instituição é coisa que pode acontecer, mas não significa que seja sempre assim. Portanto, há que estar mais atento e utilizar a multiplicidade de informação que existe para melhor se gerirem os interesses particulares.

A Direção