AS AMIZADES POLÍTICAS EM TEMPOS DE PANDEMIA

Correio da Manhã Canadá

Não é novidade que a pandemia alterou profundamente a forma como nos relacionamos. Com a imposição do distanciamento social, aprendemos a cumprimentar sem abraçar, a falar à janela, a trabalhar de casa, a respeitar o espaço do outro. A covid-19 transformou as relações humanas, quem sabe irreversivelmente, dotando-as, sobretudo, de um propósito comum – o combate ao vírus – e a política não é exceção.

Em Portugal, as amizades políticas em tempos de pandemia têm sido amplamente mediatizadas, granjeando críticas, mas também elogios. Rui Rio, presidente do PSD e líder da oposição, é das figuras que mais aplausos tem recebido. Há até quem diga até que o estilo de oposição cooperante em tempos de crise é um dos fatores de sucesso no combate ao coronavírus no país. É o caso do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, que pediu à oposição de direita de Espanha para seguir o exemplo de Portugal, apelando à “unidade e lealdade”.

As recentes manifestações de apoio entre o primeiro-ministro português e o Presidente da República também têm sido alvo de polémica, talvez por piores motivos. Apesar de pertencerem a partidos rivais, António Costa, do PS, deu como garantido que Marcelo Rebelo de Sousa, do PSD, vai ser reeleito presidente em janeiro de 2021. As palavras não caíram bem entre alguns socialistas, que classificaram a atitude como sendo “deslocada”, mas foram acolhidas por outros, que consideram a harmonia política benéfica, não só na pandemia, mas em geral.

No Canadá, a unidade política também se tem feito sentir e até quem diga que a pandemia aproximou os líderes de diferentes níveis do governo como nunca na história. O premier de Alberta, Jason Kenney, por exemplo, que regra-geral é tido como arqui-inimigo de Justin Trudeau, chegou inclusivamente a elogiar o governo federal no Twitter, dizendo-se “impressionado” pela forma como Canadá se uniu para “combater este inimigo invisível”.

Mas será que tradicionais rivais políticos podem ser sempre amigos? Ou será que só em situações limite se devem unir? A questão é difícil de responder. É certo que, por vezes, a cisão estrutural que se assiste em democracia incomoda. A falta de empatia entre o eleitorado e quem o representa perturba, quando a acusação se sobrepõe ao diálogo e a retórica negativa a soluções pelo bem comum. Por outro lado, também sabemos que democracia é oposição, espírito crítico e escrutínio permanente.

É uma questão de tempo até que a guerra política reocupe o seu espaço. Por agora, tiremos partido desta primavera.