Apoiantes de Venâncio Mondlane nas ruas de Maputo em marcha sem incidentes

Maputo, 01 nov 2025 (Lusa) – Centenas de apoiantes do político moçambicano Venâncio Mondlane saíram hoje às ruas de Maputo numa marcha pacífica de saudação ao Anamola, o novo partido fundado pelo ex-candidato presidencial, a primeira do género desde as manifestações pós-eleitorais.

Durante cerca de duas horas, a marcha levou os apoiantes do mercado do Xiquelene, nos arredores, até à Praça dos Trabalhadores, no centro de Maputo, e decorreu sem qualquer incidente, a primeira promovida pela oposição em mais de um ano na capital, tendo escolta da polícia.

“Nós já temos desde 15 de agosto aquele que vai defender este povo”, disse Dinis Tivane, o porta-voz do Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (Anamola), dirigindo-se aos apoiantes que participaram nesta marcha, em que não esteve presente o presidente e fundador do partido, Venâncio Mondlane.

“Esta marcha também serviu para provar a este Moçambique aquilo que nós queremos ser e aquilo que nós condenamos. Anamola é a esperança do povo moçambicano”, disse Tivane.

Até 21 de outubro pelo menos 2.790 pessoas continuavam detidas, de um total de 7.200, um ano após o início das manifestações pós-eleitorais em Moçambique, que provocaram 411 mortos, segundo dados da plataforma Decide.

De acordo com o relatório “Cicatrizes da Democracia em Moçambique: Impactos Humanos e Falhas de Proteção nas Manifestações Pós-Eleitorais (2024–2025)”, daquela plataforma que monitoriza os processos eleitorais, nos protestos que se seguiram às eleições gerais de 09 de outubro de 2024, registaram-se 7.200 “detenções arbitrárias” em todo o país, das quais 4.410 pessoas já estavam então em liberdade.

“As províncias de Maputo, Nampula, Zambézia e Sofala concentraram 78% dos casos, com predomínio de jovens entre 18 e 35 anos. As mulheres representaram 14% das vítimas em casos de detenção, ferimentos e morte, revelando vulnerabilidade acrescida no contexto de repressão”, refere o documento, que analisa os protestos, que eclodiram a partir de Maputo, em 21 de outubro de 2024, dois dias após o duplo homicídio do advogado Elvino Dias e de Paulo Guambe, apoiantes do então candidato presidencial Venâncio Mondlane.

No mesmo período – os protestos prolongaram-se até março último -, 3.700 pessoas ficaram feridas, das quais mais de 900 por arma de fogo, além de cinco pessoas ainda dadas como desaparecidas e houve registo de 17 execuções “com indícios políticos”, segundo o relatório.

Os agentes das Forças de Defesa e Segurança representam 4,2% do total de 411 mortos (17), enquanto as crianças são 5% dos mortos (20), acrescenta.

As eleições gerais moçambicanas, que deram a vitória, nas presidenciais, a Daniel Chapo, do partido Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), com 65,17% dos votos, resultaram numa onda de manifestações, convocadas pelo candidato Venâncio Mondlane, que nunca reconheceu os resultados, alegando fraude eleitoral.

A violência em Moçambique cessou após um primeiro encontro, em março, Chapo e Mondlane, estando em curso um processo de pacificação que prevê o compromisso governamental de realizar várias reformas, incluindo na Constituição e leis eleitorais.

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