
Angra do Heroísmo, Açores, 28 out 2025 (Lusa) — O candidato às eleições presidenciais António Filipe considerou hoje que os cartazes de André Ventura são provocações que envergonham o país, mas disse que dará mais desprezo do que atenção a este tipo de atitudes.
“São provocações. Revelam conceções reacionárias, xenófobas, racistas, que envergonham o país. Alguém que diz que quer ser Presidente da República não pode ter atitudes destas, que não só são uma vergonha nacional, arriscam-se também a ser uma vergonha internacional”, afirmou, em declarações à Lusa, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira.
O candidato presidencial apoiado pelo PCP iniciou hoje uma visita de dois dias aos Açores, onde participa num jantar-conferência organizado pela Câmara de Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo, tendo ainda previstos encontros com várias entidades na ilha de São Miguel.
Questionado, à saída de uma reunião com o representante da República para os Açores, Pedro Catarino, sobre os cartazes do candidato presidencial André Ventura, que é líder do Chega, António Filipe considerou que não são constitucionais, mas disse que o objetivo é “lançar provocações sobre provocações para ser ele sempre a estar no centro das atenções”.
“Eu acho que não podemos cair nisso. Estas provocações e outras que certamente se vão seguir até ao dia das eleições da minha parte vão ter mais desprezo do que atenção”, referiu.
Em causa estão dois cartazes da candidatura presidencial de André Ventura com as frases “Isto não é o Bangladesh” e “Os ciganos têm de cumprir a lei”.
Oito associações ciganas já anunciaram que vão apresentar queixa no Ministério Público e que estão a ponderar avançar com uma providência cautelar para a retirada dos anúncios.
Questionado sobre se o Ministério Público devia intervir, António Filipe disse que “o Ministério Público fará o que entender de acordo com as suas competências”, sublinhando que há uma “separação de poderes”.
“O Ministério Público estará naturalmente atento ao cumprimento da lei e estou convencido de que atuará nos termos da lei”, avançou.
O candidato apoiado pelo PCP vincou que quer ser “um presidente da República determinado em cumprir e fazer cumprir a Constituição na sua plenitude, também nos direitos que são consagrados, dos cidadãos, que estão muito longe de serem cumpridos”.
“Existe uma grande insatisfação entre as pessoas, que se confrontarem a vida que levam com os direitos que a Constituição lhes atribui notam uma enorme diferença”, alertou.
Nos Açores, uma das regiões mais pobres do país, disse que “tem de haver uma atenção muito grande da República ao desenvolvimento regional” e uma política de apoio “que reconheça os problemas da insularidade”.
Questionado sobre as reivindicações regionais de reforço dos poderes autonómicos, António Filipe defendeu que “a autonomia tem potencialidades ainda a explorar”.
“Acho que a autonomia das regiões autónomas é uma grande conquista da democracia portuguesa (…) Ela deve ser defendida e creio que os passos que se deram na revisão constitucional de 2004 foram positivos e muito consensuais no desenvolvimento da autonomia regional”, apontou.
O candidato considerou que “há princípios que não foram ainda completamente explorados” e que não deve haver uma nova revisão constitucional nesta matéria.
“Não creio que seja uma prioridade nem para o país, nem para as regiões autónomas, estar a apostar em sucessivas revisões constitucionais”, vincou.
António Filipe mostrou-se também contra a extinção do cargo de representante da República, defendida por vários partidos nos Açores.
“Essa solução foi consensualizada e creio que é uma boa solução. Não defendo que haja nenhuma alteração desta figura. Faz sentido que ela exista e creio que a forma encontrada na revisão de 2004 é uma forma adequada”, explicou.
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