
Nações Unidas, 29 out 2025 (Lusa) – O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, afirmou hoje que o Irão não aparenta estar a enriquecer urânio ativamente, embora admita a deteção recente de movimentos em torno de instalações nucleares do país.
Numa conferência de imprensa em Nova Iorque, antes de apresentar o seu relatório anual à Assembleia-Geral da ONU, Grossi especificou que a movimentação registada no local é “normal”, uma vez que há grandes instalações industriais nas proximidades, com “camiões e pessoas a movimentarem-se”.
Apesar de reconhecer que a AIEA não teve acesso total às instalações nucleares iranianas, os inspetores não detetaram nenhuma atividade via satélite que indicasse que o Irão tenha acelerado a sua produção de urânio enriquecido além do que havia acumulado antes da guerra de 12 dias com Israel, em junho.
“Há grandes instalações industriais onde há movimentação, há atividade em curso. E fazemos questão de salientar que tal não implica que haja atividade de enriquecimento” de urânio, afirmou.
“Não vemos nada que nos leve à hipótese de que qualquer trabalho substancial [ao nível nuclear] esteja em curso ali. (…) Nada que nos permita pensar que há trabalho que envolva o material [nuclear] ou centrifugadoras ou coisas do género de uma certa dimensão”, reforçou.
Antes da conferência de Imprensa, Rafael Grossi tinha dito à agência Associated Press (AP) que o material nuclear enriquecido a 60% ainda está no Irão, apesar dos ataques dos Estados Unidos e de Israel, e que esse ‘stock’ poderia permitir a Teerão construir até 10 bombas nucleares, caso decida militarizar o seu programa.
No entanto, acrescentou que isso não significa que o Irão possua tal armamento.
De acordo com a AIEA, antes do conflito armado entre Telavive e Teerão em junho, o Irão enriquecia urânio até 60% de pureza — a um pequeno passo técnico para atingir os níveis de 90% para a obtenção de armas – e desenvolveu também um ‘stock’ de urânio altamente enriquecido suficiente para produzir múltiplas bombas atómicas, caso optasse por fazê-lo.
A República Islâmica insiste que o seu programa nuclear é pacífico e visa apenas objetivos civis, mas no final de junho, em plena guerra com Israel, os Estados Unidos bombardearam três instalações nucleares iranianas.
Na conferência de imprensa de hoje, Grossi afirmou que os danos causados nas infraestruturas nucleares nestes três locais foram consideráveis.
O diplomata argentino, que está a concorrer para suceder a António Guterres como secretário-geral da ONU, abordou ainda o programa nuclear norte-coreano, defendendo que tem sido negligenciado pela comunidade internacional.
“[A Coreia do Norte] tem o único programa nuclear no mundo que está a explorar todos os ângulos tecnológicos possíveis sem qualquer monitorização ou qualquer noção dos padrões de segurança que estão a ser observados, se é que estão a ser observados”, afirmou Grossi
“Vejam o que fazemos noutros lugares, incluindo na Ucrânia e na Rússia. Há uma guerra lá e vejam a preocupação e os receios que existem em todo o mundo sobre a segurança nuclear. Já [na Coreia do Norte] temos um programa gigantesco que inclui enriquecimento, reprocessamento, um reator nuclear, outro a ser construído, sem qualquer problema”, criticou.
Hoje, a imprensa estatal norte-coreana noticiou que Pyongyang realizou um teste de armamento, lançando mísseis de cruzeiro estratégicos mar-superfície que voaram por mais de duas horas antes de atingirem o alvo.
Apesar de considerar a situação “preocupante”, Grossi frisou que as ações de Pyongyang têm sido “ignoradas”: “talvez devessemos começar a pensar nisso também”, exortou.
“O programa continua a um ritmo acelerado. (…) Temos vindo a reportar sobre o aumento das capacidades de enriquecimento e reprocessamento, bem como sobre a construção de novas instalações, não só no complexo tradicional de Yongbyon, tal como o conhecemos, mas também noutros locais”, observou Grossi sobre a Coreia do Norte.
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