A SOPA DO VIZINHO

Quando já quase não havia dinheiro para pagar os salários dos funcionários do Estado, o anterior governo de Portugal, chefiado por José Sócrates, pediu ajuda financeira internacional e através do entendimento entre FMI, Banco Central Europeu e União Europeia foi elaborado um plano que permitiu salvar o País da bancarrota. Claro que uma situação destas requer muita sensibilidade e, acima de tudo, muito empenho e esforço.

Os milhares de milhões de euros que faziam falta, foram chegando. Mas antes, houve que assumir compromissos e responsabilidades. Os credores de Portugal não se limitaram a falar e negociar com o governo socialista de então e com a agravante de nem sequer ter maioria parlamentar que lhe permitisse governar a seu belo prazer. A Troika assegurou-se com as garantias políticas dos três partidos da área da governação: PS, PSD e CDS. Os partidos da estrema esquerda sempre ignoraram todo o processo, limitando-se a criticar a entrada de credores e a renúncia às imposições externas.

Com o País em estado crítico realizaramse eleições e o partido que tinha negociado as ajudas e recorrido aos créditos externos perdeu e a governação foi ocupada pela coligação de centro direita PSD/CDS. O primeiro grande problema começou logo aí. Pois, a aplicação das regras negociadas, conducentes ao reequilíbrio das contas públicas, passaram a ser encaradas de forma diferente entre as partes que decidiram tudo. O esforço e os sacrifícios pedidos aos portugueses são vistos pelo Governo de Lisboa de uma maneira e a oposição faz outra leitura, defendendo que não é necessário ir tão longe no apertar do cinto.

Cada um à sua maneira faz um jogo. Os portugueses estão no meio e de um lado ouvem palavras de esperança para um futuro melhor desde que se cumpram os compromissos assumidos e que passam por muitas dificuldades momentâneas. Do outro lado, ouvem que estas decisões são desnecessárias e que tudo se arranjaria sem recurso a tantas restrições. É claro que o povo gosta de ouvir o melhor para si e para viver o presente. No que se refere ao amanhã,
mantém a velha máxima de que o futuro a Deus pertence.

Assim se vai vivendo em Portugal: com dificuldades, mas com dados económicos positivos. Os juros da dívida baixaram, o desemprego continua a baixar e prevê-se um aumento no investimento e criação de riqueza. Em maio, a Troika sai de Portugal com a ideia de serviço cumprido. Resta saber se os portugueses seguirão o seu percurso financeiro sozinhos ou se optarão por um programa cautelar, em que os credores externos continuarão, por algum tempo, a influenciar as contas de Portugal. O povo também diz e nós registamos: a sopa do vizinho às vezes é melhor do que a nossa.

A Direção