A NOSSA BANDEIRA

A ostentação de bandeiras foi sempre uma atitude de grande relevância e que se cultivou durante séculos. De início, a sua função e exibição eram, essencialmente, para mostrar a força e defender os interesses dos senhores feudais. Os donos das terras tinham os seus próprios exércitos e não se orientavam por nenhum interesse nacional. O porta-estandarte era sempre uma figura de destaque e merecedora de grande respeito, exibindo as armas da casa que representava.

O primeiro símbolo de Portugal foi inspirado no escudo azul que pertencia a D. Henrique, pai do nosso primeiro rei. As bandeiras mudavam de acordo com os detentores dos títulos e, por isso, durante a dinastia afonsina, cada rei escolhia uma bandeira diferente da anterior. Embora a identidade fosse a mesma, as interpretações eram sempre diversas. As quinas marcam presença em Portugal desde o reinado de D. Sancho I, o segundo rei de Portugal (1185).

Durante os quase 900 anos da História portuguesa as cores dominantes sempre foram azul, branco, vermelho verde e amarelo. Mesmo durante a ocupação filipina (1580/1640) mantivemos as nossas armas e a nossa bandeira. As armas estavam sempre presentes como sinal da força e o rei D. Manuel I, com uma visão mais universalista por influência dos Descobrimentos, acrescentou a esfera armilar, que ainda hoje perdura. Sempre andamos à volta com cruzes, quinas, castelos e até a flor-de-lis marcou uma presença ténue.

Depois da guerra civil que dividiu absolutistas e constitucionalistas (1820) a última bandeira portuguesa da era monárquica durou 80 anos. Verticalmente bipartida de azul e branco, apresentava as armas ao meio com 7 castelos, 5 quinas e uma coroa real. O azul e branco foram mesmo adotados por decreto como cores nacionais. Mas depois do Regicídio e da implantação da República em 1910, o verde e o vermelho tomaram o seu lugar. A discussão não foi pacífica e apaixonou a opinião pública. No fim, o ideal republicano foi mais forte e legitimou as suas cores como símbolos nacionais apesar de terem até essa época fracas raízes na consciência portuguesa. Embora o próprio Guerra Junqueiro tivesse afirmado que a alma portuguesa sempre fora azul e branca, a República argumentou que essas eram as cores do regime corrupto.

A atual bandeira já resistiu 105 anos e foi levantada por ditadores e democratas. Mas recentemente, a seleção portuguesa de futebol, a maior embaixada do nosso desporto, passou a exibir as cores de sempre, ou seja o azul e branco. Também o Palácio de Queluz está a deixar a cor rosa e vai ficar azul. Outros se seguirão. Que ilações a partir daqui? Os símbolos cromáticos são elementos que ajudam a identificar as características do povo. Estaremos a querer recuperar, pacificamente, a nossa identidade histórica? Afinal, o grande argumento de banir o regime corrupto e os seus símbolos, em 1910, já não faz sentido. A corrupção também existe nas cores atuais.

A Direção