A ERA DA (IN)TOLERÂNCIA

Correio da Manhã Canadá

Há um ditado que diz que a multidão tem muitas cabeças mas não tem cérebro. O que aconteceu neste fim-de-semana na baixa de Toronto é exemplo perfeito disso, quando dois grupos opostos se juntaram na Church Street. Este não é caso único no que a manifestações diz respeito, nestes últimos tempos, um pouco por todo o lado. Um grupo era composto por cristãos, o outro por membros da comunidade LGBTQ. O primeiro diz que veio para apelar ao amor e à paz, o segundo que também veio para o mesmo. A verdade é que a mensagem não saiu para além do cordão que a polícia montou para que os manifestantes não se envolvessem em confrontos físicos. Cada um dos grupos tinha preparado apresentações para os seus participantes, mas as ideias que repartiram com os elementos opostos não foram em forma de diálogo, mas sim por meio de gritos. E é isto que vemos hoje um pouco por todo o lado. Vivemos numa era em que a tolerância é aplicada àqueles que repartem das mesmas ideias, mas quando a ideologia é oposta, o povo prefere manifestar-se com gritos e acusações. Se a multidão tivesse cérebro, sentava-se pacificamente para debater ideias abertamente, sem medo de se ofender por ouvir opiniões diferentes como que se uma ideia oposta a pudesse ferir. Hoje em dia, é perigoso ter uma ideia controversa ou usar a palavra errada. Muitas vidas são destruídas por uma palavra ou por uma ideia. É esta a tal tolerância que a multidão espelha. Num passado demasiado intolerante, houve espaço para ideias diferentes que conduziram ao progresso. Hoje, já não queremos ouvir e preferimos gritar. Porém, nada se ouve no meio de tantos gritos. E como a minha mãe sempre me disse, não é por gritarmos mais alto que vamos estar mais certos.