A CATALUNHA VOLTA À CARGA

Tudo aponta para que a Catalunha volte a exigir ao Governo de Madrid a possibilidade de realizar um referendo para se saber se a região deve ser um Estado e independente em relação a Espanha. Tudo isto já aconteceu há dois anos, mas o referendo de então acabou por se transformar numa consulta popular sem caracter vinculativo, porque o governo de Espanha alegou a inconstitucionalidade do ato.

Não houve referendo oficial, mas 40% dos eleitores foram manifestar a sua opinião e 80% destes votaram a favor da independência. Agora os novos dirigentes da Catalunha não dão tréguas a Madrid e insistem em levar este processo por diante, numa altura em que a Espanha está mais fragilizada politicamente, uma vez que há um ano que não consegue formar um governo e caminha para as terceiras eleições consecutivas sem resultados práticos.

As divergências entre Barcelona e Madrid não são de agora. Na Península Ibérica criaram-se reinos por volta do século XII, como foram os casos de Portugal, Navarra, Castela e Aragão. Precisamente Aragão fundiu-se com o Condado de Barcelona e começaram o seu expansionismo para as Baleares e Valência. Desde sempre tiveram uma língua própria, derivada do latim, ganhado identidade própria a partir do século XII, como aconteceu por exemplo com o português, o romeno ou o italiano.

Desde sempre Castela manteve pressão para ocupar Portugal e Aragão e veio a conseguir uma parte dessa união, em 1474, com o casamento de Isabel I de Castela com Fernando II de Aragão, designados por reis católicos. A Catalunha passou a ser uma região periférica dentro da grande Espanha. Os marinheiros e mercenários catalães passaram a descobrir o mundo sob a bandeira de Espanha.

Com a chegada ao poder de Carlos V, em 1519, o mundo ficou aos seus pés. Herdou tudo e mais alguma coisa e passou a governar um vasto império. O seu herdeiro tomou conta de Portugal, também por via do casamento. A política da imposição foi o princípio do fim. As revoltas começaram primeiro nos Países Baixos e, curiosamente, em Portugal e Catalunha, no mesmo dia. A força militar de Espanha acorreu a esmagar Barcelona e Portugal conseguiu a libertação.

Mais tarde, no início do séc. XVIII é a Espanha que entra em crise de sucessão. A Catalunha que vivia uma forte decadência aproveitou a ocasião para nova tentativa de separação, mas acabou esmagada, mais uma vez. Os anos seguintes foram terríveis com o fecho das universidades e a imposição da língua castelhana. Depois das invasões napoleónicas, a Espanha perdeu as colónias com o aplauso dos catalães. A bandeira da Catalunha foi inspirada com a independência de Cuba.

A revolução industrial transformou a Catalunha na maior força de Espanha. Com as tentativas republicanas de ocupação do regime em Madrid, a Catalunha sempre espreitou a sua oportunidade, mas em vão. Hoje, afirma-se com cultura e tradições bem vincadas, com língua própria e uma vontade de afirmação autónoma. Falta o resto.

A Direção