
Maputo, 24 dez 2025 (Lusa) – As Nações Unidas admitiram hoje que a falta de financiamento está a provocar “lacunas significativas” na resposta humanitária à insegurança alimentar em Moçambique, que até março ameaçava quase cinco milhões de pessoas, nomeadamente devido à seca.
De acordo com um relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) divulgado hoje, em novembro de 2025 existiam “lacunas significativas na resposta humanitária” em Moçambique, com o apoio a chegar a 49% das 1,2 milhões de pessoas “visadas para receber ajuda”.
“Persistem lacunas significativas na resposta humanitária devido ao financiamento insuficiente recebido”, lê-se no relatório.
Acrescenta que até ao final de novembro tinham sido garantidos 31 milhões de dólares (26,3 milhões de euros) do financiamento para ajuda humanitária em Moçambique para este ano, apenas 14% dos 222 milhões de dólares (188,4 milhões de euros) necessários estimados pelas agências das Nações Unidas.
“Esta lacuna substancial de financiamento continua a dificultar a capacidade dos parceiros humanitários de prestar assistência imediata, atempada e adequada àqueles que mais dela necessitam”, aponta o relatório do OCHA.
As dificuldades afetam intervenções como na área da segurança alimentar e meios de subsistência (43% do apoio necessário prestado em 2025), água, saneamento e higiene (27%) ou proteção (17%).
“Estes números realçam lacunas críticas em vários sectores-chave para salvar vidas e realçam a necessidade urgente de recursos adicionais para garantir uma resposta multissectorial coordenada”, refere ainda o relatório, acrescentando que o apelo para financiar a ajuda para mitigar a seca em Moçambique permaneceu em 2025 “gravemente subfinanciado”.
Recorda que foi estimado anteriormente que 4,9 milhões de pessoas enfrentariam níveis elevados de insegurança alimentar aguda entre outubro de 2024 e março de 2025, em Moçambique.
Além disso, aponta, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) “reportou um aumento acentuado dos casos de malnutrição aguda grave em março e abril de 2025, com mais de 5.000 crianças internadas para tratamento só em março: “O maior número dos últimos anos e bem acima da média dos últimos cinco anos”.
Em resposta à seca provocada desde 2024 pelo furacão ‘el niño’ em Moçambique, as Nações Unidas lançaram em setembro do ano passado um apelo para financiamento, de forma a “fazer face às necessidades humanitárias urgentes nos distritos mais afetados”, tendo identificado três milhões de pessoas que necessitavam “de assistência imediata nas zonas afetadas pela seca”, essencialmente nas províncias do centro e do sul.
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