Dezenas de milhares de mulheres manifestam-se no Brasil contra violência de género

Rio de Janeiro, Brasil, 07 dez (Lusa) — Dezenas de milhares de mulheres em várias cidades do Brasil manifestaram-se hoje contra a violência de género, depois de um número recorde de vítimas femininas e uma série de casos recentes de grande repercussão que chocaram o país.

Mulheres de todas as idades e alguns homens saíram às ruas no Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades, pedindo o fim do femicídio, da violação e da misoginia, e que os homens se juntassem a elas na luta.

A irmã de Alline de Souza Pedrotti, que era funcionária administrativa numa escola no Rio de Janeiro, foi morta em 28 de novembro por um colega de trabalho, juntamente com outro funcionário.

Aline Pedrotti, que estava na manifestação no calçadão de Copacabana, disse que a pessoa que matou a irmã não aceitava ter chefes mulheres.

“Estou devastada, mas estou a lutar contra a dor e não vou parar. Quero mudanças na legislação e novos protocolos para evitar que esse tipo de crime aconteça novamente”, disse à agência de notícias Associated Press.

Outro caso que chocou o Brasil foi o de Taynara Souza Santos, atropelada pelo ex-namorado e que ficou presa debaixo do carro e arrastada cerca de um quilómetro. Os ferimentos da mulher de 31 anos foram tão graves que as pernas tiveram que ser amputadas. O vídeo do incidente ocorrido em 28 de novembro em São Paulo tornou-se viral nas redes sociais.

Em 21 de novembro, na cidade de Florianópolis, no sul do país, a professora de inglês Catarina Kasten foi violada e estrangulada até a morte numa caminho próximo de uma praia, quando se dirigia para uma aula de natação.

Estes casos recentes foram “a gota de água”, disse Isabela Pontes, que estava na Avenida Paulista, em São Paulo: “Sofri muitas formas de abuso e hoje estou aqui para mostrar a nossa voz”, afirmou.

Mais de uma em cada três mulheres no Brasil foi vítima de violência sexual ou de género ao longo de um ano, de acordo com um relatório de 2025 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o maior número desde o início dos registos em 2017.

Há uma década, o Brasil aprovou uma lei que reconhece o crime de femicídio, definido como a morte de uma mulher na esfera doméstica ou resultante do desprezo pelas mulheres.

No ano passado, 1.492 mulheres foram vítimas de femicídio, o maior número desde que a lei foi introduzida em 2015, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

“Estamos a ver um aumento nos números, mas também na intensidade e crueldade da violência”, disse Juliana Martins, especialista em violência de género e diretora de relações institucionais do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Na opinião da responsável, “as transformações sociais que visam a igualdade de direitos e representação geram respostas violentas para obrigar à subordinação das mulheres”.

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