Uma em cada quatro jornalistas recebe ameaças ‘online’, incluindo de morte – ONU

Nações Unidas, 25 nov 2025 (Lusa) – Uma em cada quatro jornalistas no mundo recebe ameaças ‘online’, incluindo de morte, indicou hoje a ONU, frisando que quase dois mil milhões de mulheres e raparigas não têm acesso a proteção legal contra assédio digital.

Numa conferência de imprensa em Nova Iorque, a propósito do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, a diretora da divisão de Políticas da ONU Mulheres, Sarah Hendriks, alertou que a legislação não está a acompanhar o ritmo da violência contra o sexo feminino, incluindo no universo digital.

“A violência digital não está separada da violência real. É a mesma violência, apenas acelerada, a mesma violência, mas amplificada. Vemos mulheres a serem entrevistadas ‘online’ antes de serem atacadas ‘offline’. Vemos também imagens obtidas sob coação que provocam danos letais. E vemos o assassinato de mulheres e raparigas”, disse.

“Neste momento, uma em cada quatro jornalistas mulheres no mundo recebe ameaças ‘online’, incluindo ameaças à sua vida. Um quarto a um terço das mulheres parlamentares enfrentam abusos tão graves que as silenciam, excluem-nas das plataformas digitais, fazem-nas afastar-se da vida política. E no meio disto, a inteligência artificial está, na verdade, a acelerar este dano”, afirmou.

Além disso, 1,78 mil milhões de mulheres e raparigas em todo o mundo não têm proteção legal contra o assédio ou perseguição ‘online’.

Sarah Hendriks alertou igualmente para o ritmo cada vez mais rápido com que estão a evoluir as ‘deepfakes’ (técnica que permite alterar um vídeo ou fotografia com ajuda de inteligência artificial) e o assédio direcionado.

Na conferência de imprensa, Hendriks foi confrontada com a recente polémica declaração do Presidente norte-americano, Donald Trump, que se referiu a uma jornalista como “porquinha”.

Questionada sobre esse tipo de discurso incentiva a mais violência contra as mulheres, a representante da ONU sublinhou que esta retórica pode gerar e reforçar a perceção de que as mulheres são menos valorizadas ou menos dignas.

“De facto, qualquer forma de se referir a uma mulher de forma depreciativa é inaceitável. E acho que é importante lembrar que nenhuma mulher está a salvo de assédio”, respondeu.

 “Mas penso que isto reflete uma realidade muito mais vasta que as mulheres geralmente enfrentam quando confrontadas com comentários – seja nas ruas, em casa, no trabalho, onde quer que isso aconteça – e esta realidade é que a violência pode gerar e reforçar a perceção de que as mulheres são menos valorizadas ou menos dignas. Também isto, em termos das normas sociais que sustentam tanto o femicídio como a violência ‘online’, precisa de mudar”, defendeu.

Cerca de 50 mil mulheres ou meninas foram mortas pelos respetivos companheiros ou outros familiares em 2024 — uma a cada 10 minutos do ano em todo o Mundo -, segundo um relatório das Nações Unidas hoje divulgado.

Os dados recolhidos pelo Gabinete da ONU para a Droga e o Crime (UNODC, na siga inglesa), indicam terem existido 137 femicídios por dia, ou seja, mantendo o ritmo constante já verificado em anos anteriores, sem que tenha havido qualquer evolução positiva.

Do total de 83 mil assassinatos de mulheres ou raparigas no ano passado, 60% foram da autoria de parceiros das mesmas ou de membros das suas famílias, enquanto somente 11% dos homicídios de homens foram executados por companheiras ou parceiros ou familiares.

“A própria casa continua a ser perigosa e, por vezes, local letal para demasiadas mulheres e raparigas um pouco por todo o Mundo”, disse o diretor-executivo interino do UNODC, John Brandolino.

O relatório da ONU estima que a maior taxa de femicídio por parceiro íntimo/membro familiar ocorreu em África (três em cada 100 mil mulheres), seguida pelas Américas (1,5), Oceânia (1,4), Ásia (0,7) e Europa (0,5).

 

MYMM (HPG) // PDF

Lusa/Fim