Há uma nova geração em Timor-Leste “que vai fazer a mudança” – escritor Luís Cardoso

Lisboa, 14 nov 2025 (Lusa) – O escritor timorense Luís Cardoso defende que é preciso “combater a falta de transparência” em Timor-Leste e acredita que serão os jovens a liderar a mudança, uma vez que “a nova geração já fez a radiografia” dos problemas.

“Existem pessoas com boas intenções e que no futuro vão fazer a mudança porque uma nova geração está a pegar nos destinos do país”, disse o autor, em declarações à Lusa a propósito do lançamento do seu livro “Hotel Timor”, no sábado, em Lisboa, e quando Timor-Leste está prestes a assinalar os 50 anos da declaração unilateral da independência, em 28 de novembro.

Luís Cardoso diz que encara o futuro de Timor-Leste com esperança e deposita confiança nas gerações mais novas.

“Os estudantes que se manifestaram em Setembro ,eles já fizeram a radiografia do país, eles sabem o que está mal”, diz o escritor, referindo-se à revolta dos estudantes contra os privilégios da classe política.

As manifestações de setembro, em Díli, conseguiram travar a compra de carros de alta cilindrada para os governantes, prevista no Orçamento do Estado, e a revogação da lei da pensão vitalícia para deputados e ex-titulares de órgãos de soberania.

“O Orçamento do Estado protege os que sempre foram protegidos”, afirma o escritor, apontando “a falta de transparência ” que tem minado a confiança entre os governantes e o povo.

“Timor, tem dois Estados, o estado de Díli, uma bolha que tem beneficiado das riquezas que existem, e o estado do resto do país, que vive na miséria. É uma extensão de bairros de lata e de favelas, onde nem água canalizada existe”, considera.

Para o escritor, que vive em Portugal, mas segue a realidade timorense com expetativa, o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, não pode pedir ao povo para se unir, “quando a prática governativa não é consequente”, referindo uma vez mais ” a falta de transparência”, nomeadamente Wnos concursos públicos”.

Embora acredite que o primeiro-ministro tenha “no seu interior, a necessidade de mudança e a intenção de modificar”, considera que o chefe do Governo “não sabe como”, defendndo que “só a transparência na governação ajuda ao desenvolvimento do país”.

Questionado sobre a recente entrada de Timor-Leste como 11.º país da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), em 26 de outubro último, teme o risco de Timor-Leste “ser engolido” pelos países vizinhos.

“É sempre uma oportunidade, porque quanto mais nos relacionarmos, melhor. Mas Timor não está preparado para este desafio. Corremos o risco de sermos engolidos pela ASEAN”, observa o escritor.

“Como vamos competir com uma empresa indonésia ou malaia? Preparámos bem os dossiers da adesão, que era um desejo antigo, mas não nos preparámos internamente. Não estamos preparados para competir com eles”, considera.

Citando um livre pensador, ironiza que “não é Timor que entra na ASEAN, é a ASEAN que entra em Timor”, observando que “não há milagres, num país com uma democracia tão jovem, que procura consolidar-se”.

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