Dias de calor perigosos para a saúde aumentaram 300%

Lisboa, 29 out 2025 (Lusa) — As alterações climáticas elevaram em mais de 300% os dias de calor com valores perigosos para a saúde em 2024, em relação à média anual de 1986-2005, segundo um relatório divulgado hoje.

Em média, a população mundial foi exposta no ano passado a um recorde de 16 dias quentes adicionais e que ameaçaram a saúde, com os mais vulneráveis a sofrerem 20 dias de ondas de calor.

Segundo o documento, a exposição ao calor resultou num recorde de 639 mil milhões de horas potenciais de perda de produtividade laboral em 2024, com perdas superiores a um bilião de dólares, quase 1% do PIB mundial.

O 9.º relatório “Lancet Countdown on Health and Climate Change”, da revista científica “The Lancet”, revela também que as secas e ondas de calor aumentaram o número de pessoas em situação de insegurança alimentar moderada ou grave em 123 milhões em 2023, em comparação com a média anual entre 1981 e 2010.

Os sistemas alimentares insustentáveis também contribuem para as alterações climáticas e as dietas pouco saudáveis e com elevado teor de carbono contribuíram para 11,8 milhões de mortes relacionadas com a alimentação em 2022, que poderiam ser em grande parte evitadas através da transição para sistemas alimentares mais saudáveis e amigos do clima, segundo o documento.

A investigação sobre a relação entre as alterações climáticas e a saúde humana alerta ainda que os atrasos na adoção de energias limpas levam a que mais de dois mil milhões de pessoas usem combustíveis poluentes nas suas casas, e que em 65 países com pouco acesso a energias limpas a poluição atmosférica resultou em 2,3 milhões de mortes evitáveis em 2022.

“Após nove anos de monitorização global, é claro que estes danos à saúde são o preço que estamos a pagar pelo fracasso consistente dos líderes globais em tomar as medidas necessárias para combater as alterações climáticas e proteger a saúde”, disse Stella Hartinger, diretora do relatório regional do “Lancet Countdown” para a América Latina e autora do relatório global, citada no comunicado.

Este preço, acrescentou, foi pago “mais severamente pelos países vulneráveis que menos contribuíram para a crise”.

Além dos danos crescentes já identificados, o relatório indica que o retrocesso político nas ações climáticas ameaça “condenar milhões de pessoas a um futuro de doenças, desastres e morte prematura”.

Atualmente, acusam os autores do documento, os bancos privados estão a apoiar esta “expansão mortal dos combustíveis fósseis”, com os 40 maiores credores do setor dos combustíveis fósseis a investirem coletivamente um valor recorde de 611 mil milhões de dólares em 2024 (um aumento de 29% em relação a 2023).

Um valor que excedeu os empréstimos ao setor verde em 15%.

O documento, produzido em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS), diz também que enquanto as emissões relacionadas com a energia batem novos recordes, mais de 128 milhões de hectares de floresta foram destruídos em 2023 (um aumento de 24% desde 2022), diminuindo a capacidade natural do mundo de mitigar as alterações climáticas.

O relatório representa o trabalho de especialistas de 71 instituições académicas e agências da ONU em todo o mundo. É publicado pouco antes da 30.ª conferência da ONU sobre o clima, que este ano se realiza em Belém, no Brasil, de 10 a 21 de novembro.

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