Restos mortais entregues por Hamas são de refém já sepultado

Jerusalém, Israel, 28 out 2025 (Lusa) — Os restos mortais entregues pelo Hamas a Israel na segunda-feira não são de nenhum dos 13 reféns mortos que ainda se encontram em Gaza, mas de uma pessoa já devolvida e sepultada, avança hoje a imprensa israelita.

Os órgãos de comunicação israelitas adiantam que o Instituto Nacional Forense do Ministério da Saúde deu conta do engano relativamente aos restos mortais entregues na segunda-feira à noite, dentro de um caixão, pelo grupo islamita palestiniano Hamas ao Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

A situação já levou o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, a anunciar uma reunião de emergência a realizar ainda hoje para discutir possíveis respostas aos atrasos na devolução dos corpos.

As autoridades israelitas têm criticado a demora do processo, até porque o prazo estabelecido no acordo de cessar-fogo para a entrega de todos os reféns — vivos ou mortos — já expirou há duas semanas.

Esta não é a primeira vez que acontece um erro na devolução de corpos. Já a 14 de outubro, o grupo islamita Hamas tinha entregado três corpos de reféns mortos, mas as análises forenses comprovaram que um deles não correspondia a nenhum dos reféns esperados.

A grande maioria dos cerca de 200 habitantes de Gaza devolvidos por Israel também não pôde ser identificada devido a desfigurações, sinais de abuso e à falta de equipamento forense nos hospitais.

Os islamitas reiteraram na segunda-feira a dificuldade em localizar os corpos dos reféns devido às toneladas de escombros que cobrem Gaza e porque muitos dos comandantes responsáveis por enterrá-los já não se lembram do local exato ou já foram mortos.

Israel está a permitir ajuda do Egito nas buscas.

Apesar de tudo, o Hamas reiterou o seu desejo de, no âmbito do cessar-fogo que entrou em vigor a 10 de outubro, devolver todos os corpos e de não dar a Israel “nenhum pretexto” para retomar os bombardeamentos.

No domingo, as fações palestinianas alargaram a busca de novos corpos para zonas para lá da chamada “linha amarela”, a parte que continua sob controlo militar do Exército israelita, que continua a controlar 53% do enclave, apesar de uma retirada parcial.

O Comité Internacional da Cruz Vermelha esteve presente nas escavações, para as quais o Egito também enviou carregadoras, escavadoras e veículos.

Em Gaza, estima-se que os corpos de pelo menos 7.000 palestinianos permaneçam enterrados, devido à recusa de Israel em permitir a entrada de equipas de remoção.

“As alegações de que o Hamas sabe a localização dos corpos dos seus prisioneiros são falsas, especialmente dadas as mudanças sofridas por Gaza em consequência da agressão” de Israel, disse o porta-voz do grupo, Hazem Qasem, referindo-se à ofensiva militar lançada contra a Faixa de Gaza após os ataques de 07 de outubro de 2023.

“Estamos determinados a entregar os corpos dos prisioneiros da ‘ocupação’ o mais rapidamente possível. Já entregámos 18 corpos, mas os recursos limitados estão a atrasar a recuperação dos restantes”, explicou, em declarações à estação de televisão do Qatar al-Jazeera.

Qasem sublinhou ainda que a população de Gaza “tem o direito de receber o equipamento necessário para recuperar os corpos de cerca de 10.000 mártires que permanecem sob os escombros”, em linha com as exigências do Hamas para a entrada de maquinaria pesada para reforçar as buscas no meio da devastação.

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