Populares encontram restos mortais em aldeia de Cabo Delgado

Pemba, Moçambique, 28 out 2025 (Lusa) – Populares da aldeia de Napala, província moçambicana de Cabo Delgado, relataram hoje terem encontrado restos mortais, alegadamente de duas crianças, numa zona de produção agrícola, área recentemente alvo de ataques extremistas.

Segundo as fontes, tratam-se de ossadas humanas encontradas naquela aldeia do posto administrativo de Chiúre Velho, a cerca de 40 quilómetros da vila sede de Chiúre, sul de Cabo Delgado, por homens que ali cortavam estacas para reerguerem as suas residências, queimadas durante o ataque de grupos de extremistas em 10 de outubro.

“Aparentam ser ossadas de menores de idade”, disse uma fonte a partir de Chiúre, associando que no último ataque foram raptados quatro menores da aldeia pelos insurgentes.

No mesmo ataque a Napala morreram quatro idosas, carbonizadas dentro das suas residências e foram queimadas mais de 2.500 casas, deixando ao relento cerca de 3.800 pessoas.

A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques extremistas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.

A ONU estimou na semana passada que pelo menos 44 pessoas morreram e outras 208 mil foram afetadas no mês de agosto pelos ataques de grupos extremistas em Cabo Delgado.

De acordo com um relatório de campo do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), até agosto, Moçambique também reportou um total de 111.393 pessoas deslocadas, a maioria provenientes de Cabo Delgado (109.118), apesar de terem sido registadas movimentações de pessoas nas províncias de Niassa e Nampula.

“Os civis continuam a enfrentar graves riscos de segurança e proteção, incluindo raptos, pilhagens e ameaças”, refere-se no documento, acrescentando-se que estes incidentes, em agosto, “resultaram em 44 mortos e 101 raptados, entre eles seis crianças e cinco mulheres”.

Acresce que a insegurança, combinada com reduções “significativas” no financiamento humanitário, limitou “severamente” a capacidade dos parceiros para alcançar as populações afetadas.

“A violência contra civis, as operações militares, os avistamentos dos grupos armados não estatais e os rumores de raptos e pedidos de resgate tornaram o acesso imprevisível nos distritos com maior gravidade de necessidades e incidentes”, descreve-se no relatório, acrescentando que a situação resultou na suspensão temporária das missões humanitárias nas zonas rurais dos distritos de Macomia, Quissanga, Muidumbe, Mocímboa da Praia, Meluco e Metuge no início de agosto.

Quase 93 mil pessoas fugiram de Cabo Delgado e Nampula desde finais de setembro devido ao recrudescimento dos ataques no norte de Moçambique, duplicando o número de deslocados em poucos dias, segundo anteriores dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, considerou, em 06 de outubro, como “atos bárbaros” e contra a “dignidade humana” os ataques que se registam em Cabo Delgado.

O Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) contabiliza 6.257 mortos ao fim de oito anos de ataques em Cabo Delgado, alertando para a instabilidade atual.

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