
Londres, 27 out 2025 (Lusa) – A Rússia terá explorado os protestos dos agricultores na Europa para espalhar desinformação e enfraquecer o apoio à Ucrânia, indicou hoje um novo relatório do centro de estudos britânico Henry Jackson Society.
O documento, intitulado “Como a Rússia tem usado os protestos dos agricultores como um cavalo de Tróia”, expõe como a propaganda apoiada pelo Kremlin (presidência russa) se infiltrou no movimento na Europa Central e de Leste.
Os protestos, alimentados por frustrações com as políticas ambientais da UE e dificuldades económicas, tornaram-se canais para mensagens anti-ucranianas destinadas a fragmentar a opinião pública europeia e a enfraquecer a solidariedade com Kiev.
A autora, Claire Pasquiou, detalhou como narrativas falsas que culpam a Ucrânia de inundar os mercados europeus com produtos agrícolas mais baratos foram promovidas no meio de preocupações legítimas.
O relatório destacou os protestos na Polónia, na República Checa, na Eslováquia e na Hungria, onde a influência russa terá amplificado alegações contra as importações ucranianas, muitas vezes sem provas.
“O ponto de partida para este relatório foi realmente essa diferença sutil, mas ainda assim significativa, entre a forma como a linguagem e as pessoas envolvidas nos protestos dos agricultores na Europa Central e de Leste em comparação com outros protestos que vimos em Bruxelas ou em França”, afirmou, na apresentação em Londres.
Para Pasquiou, “a formulação utilizada era muito semelhante à propaganda do Kremlin”.
Na altura, o primeiro-ministro checo, Petr Fiala, e o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, manifestaram preocupação.
A autora desmontou vários dos argumentos usados, referindo que não há evidências de que as importações agrícolas ucranianas tenham desestabilizado os mercados europeus nem que tenha encontrado indícios de risco significativo na segurança alimentar ou nos preços.
Pasquiou comparou estas táticas à interferência russa no passado em movimentos como os protestos antirracismo ‘Black Lives Matter’ e às manifestações dos Coletes Amarelos em França.
“O que foi realmente interessante sobre esta desinformação russa é que ela surgiu em momentos em que eleições locais estavam a ser realizadas, o que punha os políticos numa posição em que pareceriam estar contra os agricultores”, disse.
A académica francesa pediu um reforço da monitorização das narrativas em protestos sociais, um maior apoio aos meios de comunicação independentes e a melhores estratégias de comunicação pública.
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